O retrofit é uma reforma estrutural de prédios antigos que preserva e restaura a fachada e protege o patrimônio histórico. Funciona muito bem como apelo de marketing para construtoras e, no centro de São Paulo, tem sido feito principalmente pela iniciativa privada. No seu projeto “Requalifica Centro”, a Prefeitura oferece incentivos fiscais e apoio financeiro para esse tipo de obra.
Há várias incorporadoras bastante ativas nesse processo, como a Planta.Inc, a Metaforma e a Somauma. Elas têm mapeado bairros centrais como República, Vila Buarque, Anhangabaú e Campos Elíseos atrás de imóveis vazios com o objetivo de recuperá-los para fins comerciais ou de habitação.
Estima-se que neste momento cerca de 20 projetos de retrofit estejam sendo realizados, planejados ou prontos na região, incluindo o Edifício Virgínia, na rua Martins Fontes, e o Edifício Renata, na rua Araújo, ambos feitos por incorporadoras para a população de alta renda. No Virgínia, os apartamentos de um quarto custam a partir de R$ 829 mil.
O problema, infelizmente, é que o número de retrofits de interesse social na região é bastante limitado se comparado aos projetos privados, que, desde o ano passado, contam também com uma subvenção direta de R$ 1 bilhão anunciada pelo prefeito Ricardo Nunes.
Não há garantia de habitação acessível para a população de baixa renda e o que mais se vê são retrofits voltados para o mercado imobiliário. “Os benefícios para incorporadoras visam aumentar o número de pessoas morando no Centro, mas isso vai ter um impacto pequeno na redução do déficit habitacional”, diz Laisa Stroher, pesquisadora do LABCidade e professora da FAU UFRJ.
A promessa do prefeito quando sancionou a Lei do Retrofit (17.577/2021) era de que 60% das unidades produzidas a partir do programa seriam para a população menos favorecida. Mas esse público está sendo ignorado.
Raras ocupações de sem-teto entram na lista de edifícios reformados, caso do hotel Lord Palace, na rua Helvétia, no bairro de Santa Cecília, cuja reforma foi concluída em dezembro de 2022. Hoje ele abriga 176 famílias e se chama residencial Elza Soares
Também está em fase de finalização o retrofit do edifício Prestes Maia, iniciado em 2022, dentro do programa “Pode Entrar”. O prédio estava ocupado desde 2002 e em 2016 foi desapropriado.
A reforma beneficiará 287 famílias das quase 500 que viviam no local. A seleção dos moradores foi feita pela FLM (Frente de Luta por Moradia), que comanda várias ocupações no centro.
Com o fim das obras, os moradores terão que pagar prestações pelo imóvel, além de taxa de condomínio e contas de consumo. As prestações variam conforme a renda.
O programa “Requalifica Centro”, num primeiro chamamento em 2023, habilitou 11 projetos, mas todos são privados, sendo nove de uso residencial e dois com finalidade comercial. Três deles receberam subsídios da Prefeitura.
Num segundo chamamento, dois projetos sociais de retrofit em ocupações, segundo Rafael Pereira, diretor financeiro da assessoria técnica Peabiru, foram habilitados: o do antigo hotel Colúmbia, na avenida São João, 588, e o edifício Maria Quitéria, na rua José Bonifácio. Mas não se sabe quando sairão do papel.
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Publicitário e Jornalista.