Com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fora de Brasília, na próxima semana, em viagem internacional à Europa, o pacote de ajuste fiscal ganhou um ritmo diferente da pressão que faz o mercado financeiro para o anúncio urgente de medidas de corte de despesas.
Após reunião de integrantes da equipe econômica com o presidente Lula (PT), na noite da última terça-feira, a estratégia do governo foi esfriar a expectativa de um encaminhamento rápido da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que Haddad quer apresentar ao Congresso para conter o avanço das despesas obrigatórias e reduzir as incertezas com o futuro do arcabouço fiscal.
A viagem do ministro Fernando Haddad, num momento de escalada dos juros futuros, do dólar e da alta da tensão em torno do resultado da eleição presidencial nos Estados Unidos, é um sinal contundente de que há um longo caminho a ser percorrido até que as medidas saiam do forno e sejam apresentadas.
Haddad deixa o Brasil, mas os problemas ficam. As incertezas com o impacto das eleições americanas, na próxima terça-feira (5), amplificam os riscos.
A despeito da sinalização dada pelo ministro Rui Costa (Casa Civil) de convergência com Haddad na necessidade do pacote de ajuste fiscal, ficou claro que falta ainda sensibilizar o presidente Lula para a necessidade de medidas mais fortes para mudar a visão dos investidores sobre os riscos envolvendo o crescimento da dívida pública –um problema que não é só brasileiro.
Auxiliares do presidente reforçam que Lula não está preocupado com a pressão de prazos dada pelo mercado para o anúncio do pacote. O tempo da política é outro.
Haddad precisa de mais prazo. Tempo, sobretudo, para buscar consenso sobre as medidas dentro do governo. Na reunião desta semana, Lula ainda não decidiu todas as iniciativas de ajuste que poderão acompanhar a adoção de um limite global para as despesas obrigatórias, que seguiria o mesmo índice de correção do arcabouço fiscal (expansão de até 2,5% acima da inflação ao ano) com os gatilhos de contenção.
Como mostrou a Folha, as medidas de ajuste em estudo poderiam compor a lista de gatilhos ou ser implementadas de forma avulsa. É possível também combinar ambos os formatos. Os cenários ainda estão em análise. Não há nada fechado.
Sem essas medidas/gatilhos, não há como prometer o cumprimento do limite de despesas obrigatórias. Gasto obrigatório, como o nome diz, é obrigação. Não acaba simplesmente porque se fixou um teto.
A ameaça do ministro Luiz Marinho (Trabalho e Emprego) de demissão caso alguma decisão sobre temas da sua pasta seja tomada (seguro-desemprego e abono salarial), mostrou as dificuldades e pode abrir uma crise no governo com apoio do PT raiz.
“Se eu for agredido, é possível [pedir demissão]”, afirmou Marinho em entrevista coletiva na quarta-feira (30). Foi o mais duro ataque público até agora de um ministro de Lula ao pacote de Haddad.
Há descontentes (silenciosos, por enquanto) em outros ministérios com o risco de serem atingidos pelo pacote. O mais importante neste momento, na avaliação do Palácio do Planalto, é alinhar internamente as medidas.
Não ajuda em nada Lula ter deixado (injustamente) a ministra Simone Tebet (Planejamento) de fora da reunião de convergência em torno das medidas.
A semana terminou com o dólar em R$ 5,86. Até onde Haddad vai segurar o tranco no gogó sem apresentar as medidas?
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Publicitário e Jornalista.