Por Notícias ao Minuto Brasil – Lifestyle
(FOLHAPRESS) – Uma pesquisa conduzida nos Estados Unidos mostrou que o uso recreativo de Cannabis em casa aumenta em cinco vezes a intoxicação por THC (tetrahidrocanabinol) de crianças que vivem no mesmo domicílio. Os resultados foram publicados na revista Jama (Journal of American Medical Association).
Segundo os autores do estudo, como as crianças passam a maior parte do tempo em casa, acabam expostas à fumaça deixada pelos adultos usuários. Eles acreditam que diminuir o fumo dentro da residência pode reduzir de forma significativa a intoxicação dos pequenos.
O estudo usou dados de 275 crianças da Califórnia com menos de 14 anos disponíveis na base de dados projeto Fresh Air. A urina dos menores foi analisada para avaliar os níveis totais de THC presentes.
Esses dados foram comparados com o nível de exposição, avaliado como a quantidade de uso por dia pelos adultos residentes. Os cientistas usaram três métricas para analisar essa variável. Em primeiro lugar, o relato dos pais das crianças. Depois, uma medida feita por um algoritmo de contagem de partículas no ar. Por fim, usaram uma técnica de medição de partículas no ambiente.
Os autores do estudo, entretanto, destacam que não está claro o grau em que o consumo de maconha em casa pode ser detectado na urina de crianças residentes. Eles também ressalvam que os dados não foram estatisticamente significativos, e novas rodadas de pesquisa devem ser feitas para superar essa limitação.
Apesar disso, os prejuízos causados pela exposição ao THC entre crianças e adolescentes são claros para os especialistas. Thiago Roza, professor e pesquisador da UFPR (Universidade Federal do Paraná), explica que o uso passivo da droga representa riscos cognitivos, comportamentais, emocionais e psicomotores.
A fumaça liberada pelo fumo da maconha também pode causar problemas pulmonares. Um trabalho desenvolvido na Califórnia partiu da instalação de monitores de partículas de ar em 300 domicílios do estado que possuíam ao menos uma criança menor de 14 anos. Em seguida, eles avaliaram os hábitos de fumar dos pais, seja tabaco, seja Cannabis, por sete dias, bem como o quadro de saúde dos menores.
Os resultados, publicados na revista Preventive Medicine Reports, revelam que as chances de os pequenos apresentarem eventos adversos de saúde é quase duas vezes maior quando estão expostas à Cannabis. Esse dado está ajustado aos efeitos causados pela exposição ao tabaco.
Na pesquisa, os pacientes apresentaram sintomas de tosse, dificuldade para respirar, infecção de ouvido, bronquite e asma. As crianças também receberam atendimento médico para casos de eczema e dermatite atópica.
O contato com a droga desde tenra idade também pode favorecer o uso recreativo por parte dos mais jovens, outra preocupação dos pesquisadores. Entre adolescentes e jovens, o abuso da droga pode trazer consequências severas no curto e longo prazo.
Em 2023, um trabalho americano mostrou que a percepção de adolescentes sobre a utilização de maconha por pessoas do seu entorno influencia seus hábitos.
A pesquisa foi conduzida nos Estados Unidos e contou com a participação de 1.800 pessoas. Por meio de formulários, os cientistas perguntaram aos jovens qual a frequência que eles acreditavam que pais, irmãos e amigos faziam uso da droga.
Segundo os resultados, quanto mais vezes por semana os adolescentes acreditam que pessoas próximas fumam Cannabis, maior o consumo desse mesmo jovem. Os especialistas também analisaram se as políticas de legalização teriam impacto sobre esses hábitos, mas não encontraram diferenças estatísticas significantes.
Segundo Camila Pupe, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Neurologia e Neurociências da UFF (Universidade Federal Fluminense), o uso de maconha por menores de 24 anos é especialmente preocupante. Até essa idade, o nosso córtex frontal está em processo de formação e apresenta fragilidade em alguns circuitos.
Isso torna os jovens particularmente vulneráveis a substâncias tóxicas. Quando são expostos a moléculas como o THC, seu sistema nervoso pode sofrer mudanças estruturais e funcionais que levam ao surgimento de distúrbios reversíveis, como síndrome amotivacional, ou irreversíveis, como dependência, psicoses e esquizofrenia.
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