Então, no que estou pensando neste mês de aniversário da guerra entre Hamas, Hezbollah, Irã e Israel? Estou pensando no que meu professor de estratégia, John Arquilla da Escola de Pós-Graduação Naval dos Estados Unidos, me ensinou —que todas as guerras se resumem a duas perguntas básicas: quem vence no campo de batalha? E quem vence na luta pela narrativa?
E o que estou pensando hoje é como, mesmo após um ano de guerra, uma guerra na qual Hamas, Hezbollah e Israel impuseram terrível dor às forças e civis uns dos outros, ninguém venceu de forma decisiva a disputa no campo de batalha ou a disputa pela narrativa.
De fato, um ano após o 7 de outubro de 2023, esta ainda é a primeira guerra árabe-israelense sem nome e sem um vencedor claro, pois nenhum lado obteve uma vitória evidente ou conseguiu apresentar uma narrativa unificada.
Podemos e devemos nos preocupar com a condição de apátridas dos palestinos e com os árabes da Cisjordânia que vivem sob pressão dos assentamentos e restrições israelenses. No entanto, para mim, nada justifica as ações dos terroristas do Hamas em 7 de outubro de 2023 —assassinatos, mutilações, sequestros e abusos sexuais de qualquer israelense ao alcance, sem nenhum objetivo, narrativa ou propósito além de destruir o Estado judeu.
Se você acredita, assim como eu, que a solução para o conflito é a existência de dois Estados para dois povos nativos da região entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, esse ataque do Hamas foi um retrocesso imensurável a essa perspectiva.
E que história o Irã está contando? Que tem algum direito sob a carta das Nações Unidas para ajudar a criar estados falidos no Líbano, Síria, Iêmen e Iraque para poder cultivar fantoches dentro deles com o propósito de destruir Israel? E com que direito o Hezbollah arrastou o Líbano para uma guerra com Israel na qual o povo e o governo libanês não tiveram voz e agora estão pagando um preço alto?
Mas este governo israelense também não tem uma história simples na Faixa de Gaza. Essa estava fadada a ser mais feia das guerras entre israelenses e palestinos desde 1947, porque o Hamas se infiltrou em túneis sob casas, escolas, mesquitas e hospitais de Gaza. Não era possível atingir o grupo sem causar importantes baixas civis.
Portanto, como argumentei desde o início, cabia a Israel deixar claro que essa não era apenas uma guerra para se defender, mas também para destruir o Hamas a fim de dar à luz algo melhor: a única solução justa e estável possível, dois estados para dois povos.
O governo israelense do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu se recusa firmemente a fazer isso, tanto que, um ano depois, ainda não disse ao seu povo, seu exército ou seu fornecedor de armas, os Estados Unidos, o que deseja construir em Gaza no lugar do Hamas além de falar em “vitória total”.
Com Israel ainda bombardeando escolas para matar alguns poucos combatentes do Hamas escondidos dentro, mas não sendo capaz de articular qualquer futuro para os residentes de Gaza além de uma guerra permanente, parece que matar até o último membro do Hamas é o objetivo —não importa quantos civis morram. Isso significa travar uma guerra eterna que minará a credibilidade tanto de Israel quanto dos Estados Unidos e envergonhará os aliados árabes de Israel.
Mas a falta de uma boa história está prejudicando Israel de outras maneiras. Os israelenses precisam enviar seus filhos para lutar todos os dias contra inimigos do Hamas e do Hezbollah —mas não podem ter certeza se estão indo para a guerra para salvar o Estado de Israel ou a carreira política de seu primeiro-ministro.
Isso porque há mais do que motivos suficientes para acreditar que Netanyahu quer manter essa guerra em andamento para ter uma desculpa para adiar seu depoimento em dezembro em seu julgamento por corrupção, para adiar uma comissão independente de inquérito sobre como seu governo falhou em prevenir o pior ataque aos judeus desde o Holocausto, bem como para adiar novas eleições israelenses e talvez até influenciar a eleição presidencial americana a favor de Donald Trump.
Os parceiros supremacistas judeus de extrema-direita de Netanyahu disseram a ele que derrubarão seu governo se ele concordar em parar a guerra em Gaza antes de uma “vitória total” indefinida sobre o Hamas e se ele tentar trazer a Autoridade Palestina da Cisjordânia, que abraçou o processo de paz de Oslo, para ajudar a governar Gaza no lugar do Hamas —algo que o grupo terrorista teme muito.
Essa ausência de uma narrativa também está prejudicando Israel estrategicamente. Quanto mais Israel se esforçar para ter um parceiro palestino legítimo, como uma Autoridade Palestina reformada, melhor será sua chance de sair de Gaza e não ter que governar uma insurgência permanente lá, mais aliados vão querer ajudar a criar uma força internacional para preencher qualquer vácuo no sul do Líbano e mais qualquer ataque militar israelense contra o Irã seria entendido como tornar Israel seguro para tentar fazer a paz com os palestinos —não seguro para uma anexação israelense da Cisjordânia e Gaza, que é o que alguns dos parceiros de extrema-direita de Netanyahu estão buscando.
Não posso garantir que haja um parceiro palestino legítimo para uma paz segura com Israel. Mas posso garantir que este governo israelense fez tudo o que pôde para impedir que algo assim surgisse — fortalecendo o Hamas em Gaza em detrimento da Autoridade Palestina na Cisjordânia.
Para mim, é simplesmente insano que os Emirados Árabes Unidos estejam dizendo a Israel que enviariam forças militares a Gaza para estabilizar a paz lá, em conjunto com os EUA e outras forças internacionais — e que a Arábia Saudita indicou estar pronta para normalizar as relações com Israel, ajudar a pagar pela reconstrução de Gaza e abrir um caminho para as relações entre o estado judeu e todo o mundo muçulmano, e ainda assim Netanyahu até agora disse não a ambos porque tudo isso exigiria que Israel abrisse negociações com uma Autoridade Palestina reformada sobre uma solução de dois estados e que esta Autoridade Palestina convidasse formalmente os Emirados Árabes Unidos e outros para ajudar a garantir Gaza.
Israel recentemente realizou uma operação militar de alta tecnologia contra o Hezbollah, considerada um sucesso tático. No entanto, muitos dos envolvidos na operação também protestaram contra a tentativa de golpe judicial de Netanyahu, que dividiu o país e, segundo alertas, encorajou a invasão do Hamas e o ataque do Hezbollah.
A maior ameaça a Israel hoje não é o Irã, o Hamas, o Hezbollah ou os Houthis. Unido, Israel pode vencê-los todos. São aqueles que estão enfraquecendo Israel por dentro —com uma narrativa ruim.
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Publicitário e Jornalista.