Via @metropoles | A Corregedoria da Polícia Militar pediu a prisão do soldado Luan Felipe Alves Pereira, que aparece em vídeo jogando Marcelo Barbosa do Amaral, de 25 anos, de uma ponte na zona sul de São Paulo, na segunda-feira (2/12).
O soldado do 24º Batalhão da PM, da mesma forma que outros 12 policiais, está afastado das ruas desde a repercussão do caso, registrado por uma testemunha em vídeo.
O pedido da Corregedoria foi encaminhado ao Tribunal de Justiça Militar, de onde a prisão do soldado pode ser decretada. A defesa dele foi procurada, mas não se manifestou até o momento. O espaço segue aberto.
Dinâmica
Como revelado pelo Metrópoles, os policiais envolvidos no caso relataram a dinâmica da ocorrência a advogados durante breve reunião em frente à Corregedoria da PM, na região central de São Paulo, na tarde dessa terça-feira (3/12).
Parte da conversa foi registrada em vídeo pela reportagem. Na imagem (assista aqui), é possível ver quatro PMs — nenhum deles foi identificado — e três advogados na calçada. Um dos agentes, que aparece de costas, é quem descreve com mais detalhes a perseguição que terminou com o rapaz sendo arremessado da ponte por um PM. Segundo moradores que testemunharam a ação, a vítima saiu andando do local.
Apesar da distância e do barulho na rua, é possível ouvir do PM que relata a ocorrência aos advogados que ele tentou “acertar” o “moleque de azul” durante a perseguição e que “teria descido para dar um tiro” no rapaz — até a noite de terça, a vítima não havia sido localizada.
“Alinhadinho ali na base 1 [sic]. Aí vem uma motinho e de um lado o moleque sai correndo. Aí eu saio de dentro da viatura e tento acertar ele. Não acertei. Desembarquei. Isso quando eu subo, aí é justamente o moleque de azul, eu vi que ele chegou ali em cima…. [inaudível]. Eu teria descido para dar um tiro… [inaudível]. Aí eu pensei muito naquilo… [inaudível]”, afirma o PM.
A gravação foi feita na tarde de terça, quando os policiais militares compareceram à Corregedoria para dar início aos depoimentos. Ao todo, 13 PMs foram afastados das atividades na rua. Os nomes dos agentes não foram divulgados.
Pelo menos um dos policiais foi ouvido nessa terça: o soldado de primeira classe Luan Felipe Alves Pereira, de 29 anos, apontado como o PM flagrado jogando o homem rendido da ponte, de acordo com as primeiras informações da investigação.
Ao Metrópoles o advogado dele confirmou o depoimento e que Pereira é acusado de ser o autor da agressão, mas disse que não se manifestaria sobre o caso.
O inquérito foi instaurado após a circulação nas redes sociais de imagens em que o PM, integrante da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam) do 24º Batalhão Metropolitano, de Diadema, na Grande São Paulo, ergue um suspeito detido e arremessa o homem do alto de uma ponte na Rua Padre Antônio Gouveia.
Na filmagem (assista aqui), o suspeito aparece de camisa azul, conforme descreveu um dos agentes em frente à Corregedoria da PM. Após a conversa entre os policiais e os advogados, a reportagem questionou três dos PMs sobre a ocorrência. “A gente não pode falar nada, temos que prestar depoimento”, afirmou um deles.
No registro interno da PM sobre a ocorrência, os policiais omitiram a informação de que um homem havia sido jogado de uma ponte.
Segundo o documento, obtido pelo Metrópoles, os policiais dizem apenas que perseguiram suspeitos em motos até chegarem a um baile funk, cujo fluxo teria se dispersado após o surgimento da equipe policial. No momento da confusão, um homem teria sido ferido com um tiro. A origem do disparo não foi especificada.
Eles afirmam que levaram o caso ao 26º Distrito Policial da capital, no Sacomã, mas o registro civil da ocorrência teria sido “dispensado”.
Somente após o comando do 3º Batalhão da Polícia Militar (PM) ficar ciente de um vídeo, feito com celular — no qual um soldado da Ronda com Motocicletas (Rocam) aparece jogando o homem da ponte —, é que o caso foi formalizado, e um inquérito acabou instaurado pela corporação.
Nos registros da PM, feitos após a divulgação do vídeo, é afirmado que membros da Rocam teriam perseguido suspeitos, entre Diadema e a zona sul paulistana, até chegarem às imediações do baile funk.
“Horas depois”, o Centro de Comunicação da PM (Copom) foi informado sobre a internação de um homem, ferido com um tiro, no Hospital Municipal de Diadema. O estado de saúde dele é estável — ele seria submetido a uma cirurgia. O tiro transfixou a vítima, entrando pela região dorsal e saindo pelo abdômen.
Repercussão
Nessa terça-feira (3/12), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, criticaram a ação do policial que arremessou o suspeito da ponte.
Segundo Tarcísio, o PM que aparece no vídeo “não está à altura de usar a farda” da corporação.
“A Polícia Militar de São Paulo é uma instituição que preza, acima de tudo, pelo seu profissionalismo na hora de proteger as pessoas. [O] policial está na rua para enfrentar o crime e para fazer com que as pessoas se sintam seguras. Aquele que atira pelas costas, aquele que chega ao absurdo de jogar uma pessoa da ponte, evidentemente não está à altura de usar essa farda”, disse Tarcísio em publicação nas redes sociais.
Em vídeo, Derrite disse que “nenhum tipo de desvio de conduta” por parte de policiais do estado será tolerado.
“Quero dizer para todos vocês que essa ação não encontra respaldo nenhum nos procedimentos operacionais da Polícia Militar, e eu determinei ao comando da Polícia Militar o afastamento imediato de todos os policiais envolvidos nessa ação”, afirmou.
Por Alfredo Henrique e Renan Porto
Fonte: metropoles.com