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Com o retorno de Donald Trump à Casa Branca, o mercado já reflete a preocupação com o cenário político e econômico, devido às políticas protecionistas do republicano. Logo após a confirmação da vitória de Trump na Pensilvânia e Carolina do Norte, os primeiros impactos já incidiam sobre a moeda norte-americana, que registrava alta, impulsionando também os juros por toda a curva.
O Republicano Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos em vitória histórica nesta quarta-feira (6), com ampla vantagem sobre a Democrata, Kamala Harris. No discurso da vitória nesta madrugada, Trump prometeu a virada nos EUA e disse que esta ‘será a era de ouro da América’.
O dólar atingiu máxima intradiária de R$ 5,87 nesta manhã, mas no início da tarde a moeda norte-americana inverteu os ganhos. Nesta quarta, a moeda fechou em queda de 1,26%, a R$ 5,67. Durante boa parte do pregão, os brasileiros ficaram confusos com os valores, após um erro mostrar o dólar cotado a R$ 6,19 nas buscas do Google, mas companhia já corrigiu o erro.
As Bolsas da Europa registravam forte alta nesta manhã e Nova York alcançou máximas históricas, com destaque para o índice Dow Jones, que avançou acima dos 3%, impulsionado pelas ações de grandes bancos, em reação à eleição de Trump.
No início da tarde, o Ibovespa registrou nova mínima em queda de 1,41%, aos 128.822,16 pontos, na contramão dos índices de Nova York, que atingiram máximas históricas, com Dow em alta de 2,96%, o S&P subindo 1,73% e o Nasdaq em alta de 1,88%.
Efeito Trump sobre as ações na Bolsa de Valores
As bolsas europeias registraram alta após o resultado das eleições, alinhadas aos futuros de ações dos EUA, uma vez que Trump é visto como uma aposta otimista para as ações de defesa europeias.
O índice das empresas aeroespaciais e de defesa da Europa saltou 2,7% para uma alta recorde. Por outro lado, as ações de empresas de energia renovável ficaram pressionadas com a promessa de Trump de descartar projetos eólicos offshore.
As ações da Trump Media registraram alta de mais de 30% no pré-mercado, mas próximo ao fechamento sobe 5%, enquanto as ações da Tesla que avançavam 12,97% antes da abertura, ampliaram os ganhos para 15% com a campanha de Trump apoiada pelo bilionário Elon Musk.
Trump disse que estabeleceria uma comissão de eficiência governamental liderada por Musk para cortar gastos federais e as tarifas sobre importações chinesas protegeriam a Tesla.
No Brasil, as ações da Gerdau (GGBR4) lideraram as altas do Ibovespa ao longo do dia, com avanço de 9%, após a divulgação do balanço e com as declarações do presidente da companhia, prevendo um aumento da demanda por aço nos EUA a partir da vitória de Trump.
Protecionismo de Trump preocupa o mercado
Há dias das eleições o mercado já apostava no ‘Trade Trump’ e as projeções dos analistas sobre a possível vitória de Trump anunciavam o que foi constatado nessa corrida à Casa Branca: os Estados Unidos continuam influenciando o mercado como uma grande potência mundial e com forte influência sobre os outros países do globo, especialmente quanto ao seu poder econômico.
Promessas de campanha com discurso protecionista à economia norte-americana e promessas de sanções a outros países já preocupavam o mercado, como a de abandonar o modelo de diplomacia adotado durante a gestão Joe Biden-Kamala Harris e instaurar uma versão protecionista, conhecida como “America First”.
Em seu discurso de vitória nesta madrugada, Donald Trump anunciou que, sob o slogan “Promessas feitas serão cumpridas”, vai fechar as fronteiras, cortar os impostos e reduzir o déficit.
Além dessas promessas, declarações como a imposição de taxa de 35% ao México e de 15% a todos os outros países preocupam o mercado em relação aos desdobramentos econômicos, especialmente em relação aos países emergentes, como Brasil.
Nesse contexto, o retorno de Trump à Casa Branca pode impactar o aumento da inflação no Brasil, com a redução do consumo e da demanda por exportações, além do impacto da alta dos juros sobre o real em um ciclo de dólar mais alto, impactando inclusive os preços de commodities do agronegócio, como a soja.
Política da tarifa sobre importações aos EUA
O mercado segue em alerta em relação às promessas de Trump sobre aplicar tarifas a todas as importações para os EUA, sem distinção entre países aliados ou rivais. Durante a campanha, o republicano enfatizou a imposição de tarifas como estratégia para alcançar objetivos diplomáticos, como a contenção da China, a proteção da moeda norte-americana e resolução à imigração ilegal, por exemplo.
Essa política protecionista somada a declarações de Trump como “Tarifa é a palavra mais bonita do dicionário” preocupam o mercado, especialmente em relações a economias emergentes, como o Brasil. O país deve lidar com a depreciação da moeda e uma possível redução do volume de exportações, enquanto os norte-americanos talvez passem a lidar com uma demanda pouco elástica, na qual deverão pagar mais caro pelos produtos, de qualquer forma.
Segundo analistas, algumas regiões, como a União Europeia, já planejam ações de retaliação contra os EUA para proteger a economia.
Em relação ao Brasil, especialistas afirmam que as relações entre Lula e os EUA devem ser pragmáticas, com certo distanciamento e estabelecida com base em interesses econômicos bilaterais.
Projeções dos analistas para a economia
O Bradesco ressaltou em seu Boletim divulgado hoje que as políticas de Trump tendem a ser inflacionárias para os EUA, podendo resultar em juros médios maiores no longo prazo e o dólar mais forte, de modo que o real perca forças e o pacote de ajuste fiscal seja ainda mais pertinente.
Segundo o banco, “o déficit fiscal americano também é uma preocupação para o médio prazo, mas não vemos eventos iminentes, nesse tema. De toda forma, há um longo caminho a ser percorrido nessas agendas e a resposta da economia global interagirá para determinarmos esses efeitos, de tal sorte que, a depender dos resultados em equilíbrio geral, os juros e a inflação podem não ser tão maiores assim no médio prazo, mesmo que essa seja a primeira reação dos mercados”.
José Alfaix, economista da Rio Bravo avalia que “os impactos da vitória de Trump já estão se refletindo na depreciação das moedas emergentes, especialmente nos casos das economias abertas com alta dependência de exportações para os EUA, embora esse não seja o caso do Brasil, que possui uma economia relativamente fechada, e com déficit comercial com os EUA.”
Para Alfaix, a valorização do dólar frente ao real está atrelada às expectativas de maiores juros na gestão Trump. Em concordância com as considerações do Bradesco, o economista observa que “o plano de Trump tem um viés bastante inflacionário, que deve ser combatido com maiores taxas de juros, aumentando a atratividade do dólar e dos ativos norte-americanos frente aos pares emergentes.”
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