Esquizofrenia é a doença mais recorrente nos Caps da cidade de São Paulo

LAIZ MENEZES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A esquizofrenia é a doença mais recorrente nos Caps (Centros de Atenção Psicossocial) para adultos da cidade de São Paulo. Foram 73.506 pacientes atendidos nas 34 unidades da capital de janeiro de 2022 até julho de 2024.

 

Não há fila de espera para atendimento. O paciente pode se dirigir a um desses centros e ser atendido no mesmo dia ou ser encaminhado de outra unidade de saúde, como uma UBS (Unidade Básica de Saúde) ou uma UPA (Unidade de Pronto-Atendimento), por exemplo.

Além da esquizofrenia, de janeiro de 2022 a julho deste ano, os casos mais recorrentes são o transtorno afetivo bipolar, com 27.378 pacientes atendidos no período, e episódios depressivos, com 22.038.

Professor sênior da PBPC (Associação Brasileira de Psicanálise Clínica), o psicanalista Artur Costa afirma que um dos principais sintomas da esquizofrenia é a distorção da realidade por meio de alucinações. O paciente pode ouvir vozes, ver coisas, sentir toques, cheiros e até sabores.

“Os delírios, chamados de paranoia, também são um sintoma da doença. A pessoa acredita que está sendo perseguida, por exemplo”, diz.

Como não há cura, os sintomas são controlados com medicamentos antipsicóticos e outras formas de tratamento, como psicoterapia, reabilitação psicossocial (reintegração na sociedade) e terapia ocupacional.

Quanto antes o tratamento começar, melhor será a qualidade de vida do paciente, que poderá exercer as atividades do dia a dia normalmente, como trabalhar e estudar.

O tradutor João Rosa de Castro, 51, recebeu o diagnóstico de esquizofrenia aos 24 anos. Atendido no Caps de Perdizes, entre 1997 e 2019, e no centro do Itaim Paulista, de 2019 até hoje, atualmente ele consegue controlar os sintomas da doença e viver com mais tranquilidade.

Castro tem 46 livros escritos e 22 publicados. Mas a escrita é só um hobby, assim como o violão. Apesar de ser aposentado, a tradução ainda é o seu trabalho diário e o que leva renda para casa. Além disso, também desenvolve trabalhos de poesia e prosa.

“Eu tenho o transtorno esquizoafetivo, composto de esquizofrenia e depressão”, diz o paciente sobre o diagnóstico. “Eu tinha muito delírio e alucinações, mas não tenho mais. Não tenho crise há mais de quatro anos.”

O que levou o tradutor ao médico pela primeira vez foi uma crise, em 1996. Naquela época, ele lembra que ficou por dois meses em surto, sem controle da própria mente e corpo.

“Tudo isso começou a partir do sentimento de solidão, porque eu morava com minha irmã e ela viajou de férias para Pernambuco. Foi a primeira vez que fiquei só, como dono da casa, e isso desencadeou uma crise, mas antes nunca tinha sentido nada.”

Quando chegou ao Caps, o preconceito fez com que o tradutor tivesse dificuldade em aceitar um tratamento. “Eu vi pessoas com vários transtornos e pensei: ‘eu não sou louco’, porque tinha uma vida ativa, era professor de inglês e bem visto pelas pessoas. Mas hoje eu entendo a importância dos Caps”, conta.

No Itaim Paulista, Castro está em processo para receber alta graças ao avanço do tratamento. Agora, ele frequenta o local de uma a duas vezes ao mês para consulta psiquiátrica e outras atividades desenvolvidas no local, como grupos de apoio.

Diagnóstico de esquizofrenia
Para diagnosticar a esquizofrenia nos Caps, o paciente passa por um acolhimento inicial, momento em que é ouvido por um profissional de saúde, como enfermeiro, psicólogo, assistente social ou psiquiatra.

Segundo a psiquiatra Claudia Longhi, diretora da Divisão de Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde, depois é elaborado um plano de atendimento com acompanhamento médico, consultas, grupos de apoio e outras atividades.

É possível permanecer nos Caps de segunda a sexta (de manhã até a noite), ir uma vez na semana para uma atividade específica (como grupos de apoio) ou, caso a equipe médica ache necessário, ficar em acolhimento 24 horas, incluindo os finais de semana.

O diagnóstico da esquizofrenia, que envolve uma variedade de sintomas, requer a atuação de uma equipe multidisciplinar, com avaliação principal de um psiquiatra.

Segundo o psicanalista Artur Costa, uma das características observadas no diagnóstico é a incapacidade do paciente de demonstrar alegria, tristeza ou qualquer outro tipo de emoção.

Outros sintomas que ajudam no diagnóstico incluem dificuldade de manter uma linha de raciocínio, incapacidade de sentir prazer em qualquer atividade, negligência ao assumir responsabilidades e falta de concentração.

A esquizofrenia geralmente é identificada no final da adolescência e no início da fase adulta, a partir dos 20 anos. “Quando falamos de infância e juventude, tratamos de psicoses infantis, que ainda não chamamos de esquizofrenia”, diz Claudia Longhi.

No Brasil, estima-se que cerca de 1,6 milhão de pessoas tenham esquizofrenia, o que representa 1 em cada 100 pessoas. No entanto, os pacientes ainda enfrentam o preconceito associado à doença, como a ideia errada de que são violentos ou perigosos.

“Para as pessoas em geral, o diferente é sempre alguém que causa incômodo. Mas trabalhamos muito com a população no sentido de que, para além da doença, há uma pessoa, um sujeito que sofre de uma doença”, afirma Longhi.
Esse projeto é uma parceria com a Umane, associação que apoia iniciativas no âmbito da saúde pública

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