Estudo estima aumento global de 76% dos casos de câncer até 2050

(FOLHAPRESS) – Em comparação com números de 2022, especialistas estimam um aumento de 76% do número de pessoas vivendo com câncer no planeta em 2050. Será um total de 35,3 milhões de pessoas enfrentando o problema. Esse é o resultado de um estudo publicado na prestigiada revista científica Journal of American Medical Association.

 

A porcentagem de mortes também deve subir de 9,7 milhões, em 2022, para 18,5 milhões em 2025, um aumento de 89,7%. Esse número deve ser puxado, sobretudo, pelos casos concentrados em países de baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).

Entre essas regiões do globo, tanto o número de casos quanto o de fatalidades crescem em mais de 140% -em comparação com 41,7% e 56,8%, respectivamente, para países de alto IDH.

Assim como acontece hoje, os pesquisadores estimam que haverá em 2050 uma incidência mais de câncer entre homens do que entre mulheres, com uma disparidade projetada em 16%. Essa população é mais suscetível a casos da doença por uma série de fatores, entre eles a menor tendência de se engajar em campanhas preventivas e maior probabilidade de estarem expostos a fatores de risco como alcoolismo e tabagismo.

Foram analisados 36 diferentes tipos de câncer na pesquisa. O estudo usou dados de 2022 provenientes da população de 185 países e territórios coletados pelo Observatório Global do Câncer. Os participantes foram estratificados por gênero, idade, localidade e IDH. Em seguida, os pesquisadores rodaram estatísticas robustas para fazer as projeções para o futuro.

As estimativas apontam que, até 2050, os casos de câncer de pâncreas entre homens com mais de 75 anos em países africanos de baixo IDH terão índices de mortalidade de até 89,4%. Entretanto, até lá, o câncer de pulmão deve assumir a liderança da lista de incidência e mortes, seguido do colorretal, de mama, fígado, próstata e estômago.

Os autores exploram o papel dos diferentes sistemas nacionais de promoção de saúde e os apontam como elementos essenciais na reversão dessas tendências. Em particular, destacam o caso de Ruanda, país africano de baixo IDH que conta com um sistema gratuito de saúde. A nação deve encarar um índice de mortalidade menor do que 25 outros países da região, segundo as estimativas, o que os pesquisadores atribuem a essa política pública.

O cenário brasileiro, entretanto, se diferencia um pouco do panorama mundial. Segundo as estimativas do ano passado do Inca (Instituto Nacional do Câncer), os casos mais incidentes de câncer em homens são de próstata, colorretal e pulmonar. Já nas mulheres, se destacam o de mama, colorretal e de colo do útero.

Enquanto nos países desenvolvidos o câncer de colo de útero está em tendência de queda, no Brasil é o quarto tipo mais prevalente. Segundo Igor Lemos, oncologista do hospital da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), essa é uma característica de países de menor desenvolvimento relativo.

Essa doença, causada na maioria dos casos pelo vírus HPV, pode ser prevenida com a vacinação e com exames de prevenção. O país, no entanto, enfrenta desafios de acesso à saúde básica, sobretudo na região Norte. Essa falta de acesso e o maior risco de exposição ao vírus vitimiza principalmente as populações mais carentes.

Por outro lado, o câncer de pulmão enfrenta uma tendência regressiva no país. Segundo o professor Lemos, isso pode ser atribuído ao sucesso das campanhas antitabagismo. Ele ressalta, entretanto, que embora tenhamos um cenário menos grave, o país não está em uma situação confortável.

Outra crescente preocupação são os casos de câncer entre adolescentes e jovens adultos até 29 anos. Essa é a principal causa de óbito para essa população, se excluídos fatores externos.

Apesar da incidência crescente, o país enfrenta dificuldade para atender essa população. Um estudo brasileiro publicado ano passado na revista científica JCO Global Oncololy revela que não existe um serviço de saúde dedicado a essa faixa etária em nove de cada dez centros de saúde incluídos na pesquisa. Os resultados também refletem, em parte, as carências estruturais que explicam as disparidades regionais da doença, especialmente na região Norte, onde atrasos nos diagnósticos foram frequentes.

Paulo Henrique Diniz, professor e pesquisador da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e um dos autores desse estudo, destaca que essa população precisa de cuidados especiais que o país não está pronto para fornecer, em particular porque a biologia da doença em alguns casos não é exatamente a mesma. Por isso, são necessários estudos e profissionais treinados.

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