“A política cicloviária paulistana foi abandonada pela atual gestão da prefeitura, a qual desestimula o uso da bicicleta”, diz Renata Falzoni (PSB) uma semana após ser eleita vereadora na cidade de São Paulo.
A acusação é feita dentro da série de entrevistas promovida pelo Ciclocosmo com vereadores eleitos na capital paulista. Além de Falzoni, participam Lucas Pavanato (PL), que teve sua entrevista publicada nesta terça (15), Ricardo Teixeira (União Brasil), que será publicada nesta quinta (17), e Silvia Ferraro (PSOL), que fecha a série na sexta (18).
Todos os participantes ouviram perguntas idênticas sobre políticas de mobilidade urbana.
Leia, a seguir, a entrevista com Renata Falzoni.
Segundo o Painel Intergovernamental para a Mudança Climática, carros e motos contribuem com 75% das emissões de CO2 do setor de transporte. Qual a solução? Além de emitir gás venenoso, o carro ocupa muito espaço, é pesado e está ligado à esmagadora maioria das mortes no trânsito. Então temos que relacionar a ineficiência total do uso do automóvel individual às emissões de gases do efeito estufa e às mortes no trânsito.
A lei do Programa Bike SP, que prevê remunerar quem troca o transporte motorizado por bicicleta, existe desde 2016 mas ainda não foi implementada. A senhora pretende atuar para sua implementação? Esse programa pretende devolver para o trabalhador a economia que a cidade faz ao não subsidiar sua passagem quando ele troca ônibus por bicicleta. O Banco Mundial entregou estudo endossando a lei, mas a prefeitura não está encarando com seriedade a possibilidade do retorno social deste programa.
A senhora concorda que a redução dos limites de velocidade é necessária para diminuir as mortes no trânsito de São Paulo? É claro que concordo, mas não se trata de uma opinião. É uma questão de aceitar a ciência. Há um estudo muito bom que mostra que o acalmamento de trânsito reduz mortes, aumenta a velocidade média e a eficiência do viário e promove o uso misto do espaço com pedestres, bicicletas e patinetes. O sucesso está em modificar o viário para acomodar velocidades médias mais altas no lugar de velocidades máximas individualistas.
A senhora pretende atuar para aumentar e melhorar a malha cicloviária da cidade? Tenho 50 anos dedicados a essa temática e posso dizer que, em uma relação per capta ou per área, Rio Branco, no Acre, tem muito mais estruturas cicloviárias que São Paulo. Em São Paulo, muitas das ciclovias estão desconectadas, sem zeladoria, viraram estacionamento de automóvel, área para descarte de lixo, ou desapareceram com o processo de recapeamento. Ou seja, a política cicloviária paulistana foi abandonada pela atual gestão da prefeitura, a qual desestimula o uso da bicicleta.
Muito se fez pelo asfalto, mas a condição das calçadas continua ruim. A senhora tem a solução para esse problema? Essa é uma questão importantíssima. Em São Paulo, a calçada é um dever do munícipe. Cabe à subprefeitura fiscalizar, mas ela não o faz. Não há um órgão gestor da mobilidade ativa, e a CET só coloca calçada e faixa de pedestre onde não atrapalha a fluidez dos motorizados. As calçadas devem ser municipalizadas gradualmente, especialmente as que afluem para escolas e transporte coletivo. Precisamos também repensar o uso do Fundurb, que foi modificado na gestão Dória e Bruno Covas e deixou de ser investido na mobilidade sustentável para ser usado em asfalto.
Como resolver a precariedade do setor de entrega por aplicativo? Esses aplicativos funcionam na base da pressa. É tudo para ontem. Isso premia a alta velocidade e gera insegurança. Precisamos questionar toda a cadeia de funcionamento dos aplicativos. Inclusive, precisamos valorizar o entregador ciclista. Esse profissional, apesar de gerar uma grande economia ambiental, recebe menos que o entregador que usa moto.
A senhora é a favor da tarifa zero? Se sim, como amplia-la? Sou a favor, desde que não custe 15% do orçamento do município. Tem que mudar a forma como são remuneradas as companhias de ônibus. Hoje paga-se por passageiro, sendo que a nova licitação prevê o pagamento por serviço. Ao mesmo tempo, precisa ser revertida a evasão do transporte coletivo, e isso passa por uma maior fluidez dos corredores de ônibus e melhora da qualidade do serviço.
A senhora acredita nas mudanças climáticas? Não precisa ser gênio ou cientista. A gente sente na pele as mudanças climáticas e sabemos de onde vêm: Excesso de automóvel, de asfalto e poucas árvores. Quem está dentro do carro com ar-condicionado ligado não percebe as mudanças causadas pelo bafo quente que sai do próprio motor, mas vai perceber quando seu carro boiar no alagamento. Não tem como não acreditar.
RAIO-X
Renata Falzoni, 71
Nascida em São Paulo (SP). Reside no Jardim Paulista. É formada em arquitetura e urbanismo pelo Mackenzie. Se identifica como centro-esquerda, e seu partido, o PSB, é enquadrado dentro do campo da esquerda pelo GPS partidário da Folha. Esta é a primeira vez que se elege, mas já se candidatou a vereadora em 1996 e 2020, e a deputada estadual em 2022.
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Publicitário e Jornalista.