Epidemias, falta de água, insegurança alimentar, inundações, extinção de espécies. O planeta está à beira de um colapso e não há sinal de que as autoridades mundiais estejam tentando reverter a marcha da humanidade rumo ao abismo.
Alguns até se preparam para a iminente hecatombe, tentando viver de subsistência em algum lugar com uma nascente de água para chamar de sua. Outros evitam ter filhos, para poupar gerações futuras da morte por calor, fome ou uma nova doença.
O importante é que nós, humanos, podemos encarar o fim com a consciência tranquila. Afinal, fizemos de tudo. Nos sacrificamos. Movemos mundos e fundos para impedir o apocalipse.
O que fizemos? Levamos a sacola reutilizável ao supermercado. Quando a pessoa do caixa oferecia sacola plástica, de cima do altar dos ecológicos e sustentáveis, respondemos: “Não precisa, eu trouxe de casa”, sabendo que evitaríamos o derretimento das calotas polares.
Tomamos banhos de cinco minutos, desligamos a torneira para nos ensaboar. Mesmo no inverno rigoroso, mesmo que a água demorasse mais para esquentar do que o tempo que a deixamos desligada. Porque isso salvaria o rio Madeira da seca.
Compramos roupas de segunda mão. Meu filho me perguntou o porquê de seu tênis ter o nome “Diego” escrito na sola, sendo que seu nome é Gabriel. Eu sabia que, ao comprar um tênis com notas de chulé de outra criança, estaria evitando que um golfinho fosse intoxicado por fiapos de poliéster.
Reciclamos lixo, brigamos com nossos cônjuges por causa de uma caixa de pizza encontrada na lixeira errada. Levamos papelões para centros de coleta. Porque, sim, isso impediria que uma cidade fosse engolida por um dilúvio.
Instalamos lâmpadas de LED. Reaproveitamos água da chuva. As mães comeram as sobras das refeições de seus filhos para evitar desperdício de comida. Porque isso iria garantir alimento para as gerações futuras.
A catástrofe climática é um destino quase certo. A humanidade pode ser extinta. O que importa é que vamos dormir com a consciência tranquila e saber que morremos lutando.
Afinal, a crise climática não é resultado do agronegócio que desmata e queima. Nem da indústria que estimula o consumo desenfreado e polui. Muito menos dos combustíveis fósseis. É da nossa casca de banana misturada com plástico na lixeira de recicláveis.
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Publicitário e Jornalista.