Galho que nasce torto… – 14/10/2024 – Dora Kramer



Nada contra o anseio de congressistas e supremos magistrados de rever os atuais termos de financiamento das campanhas eleitorais. Está ruim mesmo. A correção pretendida em 2015, quando foram proibidas as doações de empresas, não teve o efeito saneador esperado.

A coisa continuou errática e, sobretudo, desigual em relação à paridade de condições entre partidos e respectivos candidatos. Algo há, realmente, a ser revisto. Nesses nove anos, a situação piorou: concentraram-se recursos nas direções partidárias, que os distribuem como querem, dentre outras distorções.

Mas isso não ocorreu pelas razões ora alegadas: a rejeição da sociedade ao fundo eleitoral e a continuidade do uso de caixa 2. De fato, isso aconteceu, mas faltou apontar as responsabilidades. E elas são daqueles que agora propõem a revisão.

O galho nasceu torto, continua assim e, como de praxe, promete morrer torto. O rechaço ao fundo se dá em função do volume absurdo de dinheiro carreado por decisão dos parlamentares, cujo apetite aumenta a cada eleição.

O primeiro foi de R$ 1,7 bilhão, aprovado em 2017. Quatro eleições depois, de R$ 4,96 bilhões. O maior do mundo, considerando as democracias adeptas da prática. Nem por isso o custo se refletiu em melhoria na qualidade da política.

Já o uso do caixa 2 segue em cena por culpa dos partidos que recorrem a ele e da Justiça e demais instâncias que falham na fiscalização e são inoperantes nas punições. Portanto, se defeito há, o problema não é todo da regra, mas dos abusadores e daqueles que os deixam exorbitar.

O debate é legítimo até porque a decisão original foi tomada no calor da urgência de se colocar um freio na farra das ilicitudes do método “por fora”. Mas os primeiros acordes da sinfonia não indicam melhoria: uns propõem a simples retomada das doações empresariais, outros sugerem a junção delas ao derrame da dinheirama pública.

Adotada, a fórmula seria a união da fome com a vontade de comer. Uma aliança do assalto ao cofre da União aos interesses de gente que depois cobra a conta do jeito que a Lava Jato nos contou.


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