BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, atribuiu em carta aberta divulgada nesta sexta-feira (10) o estouro da meta de inflação em 2024 à força da economia brasileira, ao câmbio depreciado e aos fatores climáticos, em um cenário de expectativas deterioradas.
O texto endereçado ao ministro Fernando Haddad (Fazenda) foi divulgado depois que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) comunicou que a inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), fechou 2024 com alta acumulada de 4,83%.
O alvo central definido pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) é 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que a meta é considerada cumprida quando oscila entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
O estouro da inflação ocorreu na gestão de Roberto Campos Neto, cujo mandato terminou em 31 de dezembro. O ex-presidente chefiou o BC entre 2019 e 2024 e descumpriu três vezes o objetivo perseguido pela autoridade monetária -em 2021, 2022 e no ano passado.
Pelas regras em vigor até o fim do ano passado, quando a inflação anual fica fora da margem de tolerância, o chefe do BC precisa escrever uma carta ao presidente do CMN (ministro da Fazenda) explicando as razões para o descumprimento da meta e dizendo como pretende assegurar o retorno do índice aos limites estabelecidos.
A partir deste ano, a autoridade monetária busca o alvo de 3% sem se vincular ao chamado ano-calendário, ou seja, ao período de janeiro a dezembro. A nova sistemática prevê que a meta será considerada descumprida quando a inflação, medida pela variação de preços acumulada em 12 meses, ficar por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância.
No último relatório trimestral de inflação, publicado em dezembro, o BC afirma que o IPCA seguirá acima do limite do intervalo de tolerância até o terceiro trimestre de 2025, nas projeções de seu cenário de referência, entrando depois em trajetória de declínio.
Se a estimativa do próprio BC se confirmar, Galípolo deverá escrever uma nova carta já em meados do ano. Na prestação de contas, ele deverá fazer uma descrição detalhada das causas do descumprimento, as medidas necessárias para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos e o prazo esperado para que essas medidas produzam efeito.
Se a inflação não voltar ao intervalo de tolerância no prazo estipulado na carta ou o BC considerar necessário atualizar as medidas ou o prazo previsto para o retorno da inflação ao alvo fixado, a autoridade monetária deverá divulgar novo documento.
Ao todo, já foram escritas oito cartas desde a criação do sistema de metas para a inflação no Brasil, em 1999.