Uma série de coincidências liga um funcionário público de uma secretaria que administra bilhões em contratos sem licitação na gestão Ricardo Nunes (MDB) ao dono da empresa que mais lucrou com esses contratos.
De um lado, está o chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), Eduardo Olivatto. Do outro, o empresário Fernando Marsiarelli, dono da F.F.L. Sinalização.
A empresa faturou R$ 624,1 milhões em contratos emergenciais nos últimos quatro anos, destinados à recuperação de pontes e contenção de margens de córregos na cidade.
Um ponto de conexão entre eles são dois apartamentos em condomínios de alto padrão na capital paulista: além da F.F.L., Marsiarelli é proprietário da imobiliária Ravello, que possui imóveis ocupados por Olivatto.
O podcast UOL Prime, apresentado por José Roberto de Toledo, traz nesta quinta-feira (24) uma entrevista com os jornalistas Mateus Araújo e Thiago Herdy sobre as reportagens que abordam a relação entre Olivatto e Marsiarelli.
Na conversa, Mateus e Thiago contam bastidores da apuração das reportagens publicadas em outubro.
“Descobrimos que a empresa de Eduardo Olivatto com a esposa tinha como sede esse imóvel, que fica na Rua Professor Campos de Oliveira, na zona sul. Descobrimos isso e também que a mulher de Olivatto tem uma empresa só dela, cuja sede fica no mesmo endereço, no imóvel de Fernando Marsiarelli”, conta Mateus Araújo.
Na sequência, os repórteres descobriram que Olivatto vive com a família em outro apartamento de Marsiarelli, num prédio de luxo em Pinheiros.
A F.F.L. é a empresa que individualmente mais faturou com obras emergenciais entre 2021 e 2024, com 23 contratos que somam R$ 624,1 milhões. Eles concentram 11,49% de todas as obras nesta modalidade no âmbito da Siurb.
Se considerado o faturamento de grupos empresariais, ela ficaria atrás apenas do grupo formado pelas empresas B&B Engenharia, BBC Construções e Abcon, que pertencem a uma mesma família e faturou R$ 758,8 milhões no período.
As obras emergenciais servem para recuperação de pontes e também do sistema de drenagem da cidade, margem de córrego, de rio que está desabando e pode também estar com algum problema, como explica Thiago Herdy.
“Na gestão do Nunes, você tem uma concentração nesse tipo de contratação. Eles convidam três empresas para apresentarem seus preços, justificando a necessidade da obra e apresentando seus preços, e vão escolher aquela que dá algum descontinho”, explica o repórter.
“A gente descobriu no UOL que, na maior parte dessas obras — foram 37 obras, de 2021 a 2023 —, as empresas estavam combinando os preços que apresentavam à prefeitura. Vamos dizer, um jogo de cartas marcadas”, lembra.
“Eram, em 2020, 80 milhões de reais gastos com esse tipo de contratação, essa contratação emergencial. Em 2023, vão ser 2 bilhões 870 milhões de reais.”
O podcast UOL Prime é publicado às quintas-feiras no YouTube do UOL Prime, Spotify, Apple Podcasts, Amazon Music, Deezer e em todas as plataformas de podcast.
Publicitário e Jornalista.