Importância da “Faria Lima” na dívida pública aumenta, enquanto estrangeiros minguam

Via Últimas notícias – Monitor do Mercado

A dívida pública do governo aumentou 1,8% em outubro, em relação ao mês anterior, chegando a R$ 7,073 trilhões, de acordo com dados divulgados pelo Tesouro Nacional nesta sexta-feira (29). E a importância dos fundos de investimentos nacionais, concentrados na “Faria Lima”, em São Paulo, aumentou significativamente.

Conforme levantamento do Monitor do Mercado, nos últimos 10 anos houve um aumento do volume captado pelo governo com a emissão de títulos públicos, enquanto a participação dos estrangeiros no Tesouro segue no sentido contrário, com uma redução significativa.

Em dezembro de 2014, o estoque de títulos era de R$ 2,1 trilhões e hoje é de R$ 6,6 trilhões. Corrigindo o valor de dez anos atrás pela inflação (IPCA), hoje o total seria de R$ 4,3 trilhões. Por outro lado, a participação dos estrangeiros no Tesouro, que à época era de 18,6%, hoje se limita a apenas 10%.

Atualmente 21,5% dos títulos da dívida pública estão nas mãos de fundos de investimento nacionais e o governo mantém uma dívida de R$ 1,47 trilhões com gestores de fundos e investidores brasileiros, contrariando o cenário anterior, em que esse tipo de investimento era dominado por estrangeiros.

Mudança no perfil dos investidores

Segundo a economista sênior da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), Daniela Prates, houve uma mudança no perfil dos detentores de títulos do Tesouro Nacional. Os investimentos estrangeiros em títulos da dívida pública tiveram uma redução significativa este ano, para apenas 10%, o menor patamar desde 2007.

Prates explicou que desde 2015, quando a participação de estrangeiros no Tesouro era impulsionada pela isenção de impostos de renda sobre ganhos, a participação vem caindo constantemente. As falas foram registradas na palestra “Dívida Pública e Mercados Financeiros”, promovido pelo Centro de Estudos de Economia do IREE (Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa)

Os investimentos na Bolsa têm seguido o mesmo caminho neste ano. Somente na última sexta-feira (29), os investidores estrangeiros retiram R$ 472,82 milhões da Bolsa de Valores (B3), totalizando uma baixa de R$ 3,05 bilhões no mês de novembro. No acumulado do ano, o fluxo segue negativo em R$ 33,81 bilhões.

Cenário atual de participação na dívida pública

Segundo dados divulgados pelo Tesouro, embora as maiores fatias de participação ainda se limitem à Previdência e às Instituições Financeiras, o investimento nacional tem conquistado seu protagonismo.

Confira a evolução da participação na dívida pública nos últimos 10 anos (2014-2024):

Instituições Financeiras: de 29,77% para 28,96%

Fundos de Investimento: de 20,28% para 21,5%

Previdência: de 17,07% para 24,42%

Estrangeiros (não-residentes): de 18,64% para 10,47%

Governo: de 5,72% para 3,49%

Seguradoras: de 4,09% para 4,07%

Outros: de 4,44% para 7,1

Para o professor de mercado de derivativos, Manfred Back, a existência de um mercado local forte de dívida pública (e confiável) permite que o governo ajuste suas políticas sem depender excessivamente de capitais estrangeiros, diferentemente de países como a Argentina, que busca financiamento externo devido à falta de confiança dos investidores.

Participação estrangeira em derivativos

Se por um lado a participação de investidores estrangeiros tem se deteriorado no campo da dívida pública, de outro, torna-se cada vez mais presente no mercado de derivativos, com posições relevantes no dólar futuro, assim como no mercado futuro de juros (DI). Segundo Back, esses contratos somam aproximadamente R$ 76 bilhões e R$ 100 bilhões, respectivamente.

Comparando os dois tipos de investimento, Back considera que apesar de o mercado brasileiro ser menor em relação a alguns mercados internacionais, como o dos títulos corporativos nos Estados Unidos, que movimenta US$ 11 trilhões, o Tesouro Nacional oferece uma vantagem ímpar, que é a garantia de liquidez diária para títulos públicos, o que reforça o papel da B3 como uma das maiores bolsas de derivativos do mundo, ficando atrás apenas de mercados como Chicago, Londres e Hong Kong.

Todo esse contexto de mudança do perfil dos investidores também é influenciado pelo mercado interno, de incerteza em relação ao cenário fiscal, sobretudo em relação aos riscos diante de um pacote de corte de gastos que tem se mostrado insuficiente para cumprir a meta proposta pelo governo, ocasionando a desvalorização do real e a volatilidade dos ativos negociados no Brasil.

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