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Após duas tentativas sem sucesso, o governo federal deve realizar nesta quinta-feira (29) a concessão da Rodovia BR-381, entre Belo Horizonte e Governador Valadares (MG), conhecida como a “Rodovia da Morte”.
Na nova versão, o contrato, com duração de 30 anos, deve gerar um investimento de R$ 9 bilhões e será disputado por dois consórcios, com gestoras de investimentos pouco conhecidas no setor rodoviário: a 4UM, formada pelas famílias Malucelli, Salazar e Federmann — acionistas das empresas MLC, Aterpa e Senpar — e a Opportunity, que integra o segundo consórcio com a Monte Rodovias (operadora da região Nordeste).
Estimativas para a concessão da Rodovia BR-381
O contrato de concessão da Rodovia BR-381, que deve ter duração de 30 anos, estima que sejam feitos investimentos na casa dos R$ 9 bilhões.
Ao todo, as obras da rodovia incluem 134 quilômetros de duplicações (entre obras remanescentes e novos trechos), mais 83 km de faixas adicionais e 9,7, km de vias marginais, além de 20 passarelas e 15 passagens de fauna.
Com tentativas frustradas de realizar a concessão da rodovia desde 2021, o edital de licitação sofreu diversas alterações para que se tornasse mais atrativo para o setor privado. Tanto no leilão de 2022 como no ano passado, não houve lances de investidores.
Uma das medidas tomadas para despertar maior interesse foi a decisão do governo federal de assumir, por meio do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), um trecho de 30 km de obras, que vai de Belo Horizonte a Caeté (MG) e deve passar por desapropriações e, por isso, era visto como desafio para as empresas privadas.
Novidade no setor de rodovias
As duas empresas que devem disputar a concessão da rodovia são novidades para o setor rodoviário.
A Opportunity possui ativos na área de infraestrutura, na operadora portuária Santos Brasil, além de uma participação minoritária na Equatorial Energia.
No ano passado, a gestora de investimentos teve sua oportunidade de estrear no setor de rodovias quando demonstrou interesse em comprar parte da Monte Rodovias, mas não chegou a compor o consórcio.
Já a gestora 4UM (antiga J. Malucelli Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários), segunda concorrente na disputa, já deu os primeiros passos para incluir o setor rodoviário em suas estratégias de investimento — chegou a concluir neste mês a captação de um fundo de investimento em participações para atuar nos próximos leilões de rodovias e tem a BR-381 como o primeiro investimento.
Ainda que as famílias envolvidas na 4UM tenham origem em empresas ligadas à construção e concessões de infraestrutura — como a Aterpa, que tem uma fatia minoritária na operação de saneamento do Amapá, em sociedade com a Equatorial, e a Senpar, que é uma das sócias do consórcio Way, que opera concessões rodoviárias do Mato Grosso do Sul —, a empresa informa não haver consócio com as construtoras.
Concorrência
A concorrência das obras de R$ 9 bilhões será realizada na sede da B3, em São Paulo, e fará a concessão de trecho de 304 quilômetros à iniciativa privada que oferecer maior desconto na tarifa de pedágio.
Além disso, a empresa interessada deverá arcar com o compartilhamento de riscos nos trechos em que há maior instabilidade geológica e com a taxa interna de retorno do contrato, que foi ampliada, de 9,9% para 11,97%, como parte das novas alterações do edital.
Assim como ocorreu nos últimos leilões do governo federal, o vencedor que oferecer um deságio superior a 18%, deverá pagar um aporte, que aumenta conforme a agressividade da oferta, variando entre R$ 62 milhões e R$ 93 milhões por ponto percentual de desconto.
Projeto de alto risco
Segundo analistas, a tendência é que esse tipo de contrato atraia empresas recém-chegadas no setor, uma vez que operadores tradicionais se concentrem em leilões de menor risco, devido possuírem contratos mais recentes em fase de investimentos intensivos e por se atraírem por leilões de ativos mais consolidados que possam surgir.
Empresa tradicional do setor rodoviário que atua nos trechos de Minas Gerais, a EPR, operadora da Equipav e da Perfin, que participou dos últimos leilões ficou de fora do projeto, assim como CCR (CRRO3) e Ecorodovias (ECOR3) também não farão lances para a BR-381.
Rodrigo Campos, sócio do Vernalha Pereira, diz que o fato de empresas do setor não participarem do leilão “demonstra que o mercado está aquecido e que há alguns grupos com mais apetite para risco.”
Para Lucas Sant’anna, sócio do Machado Meyer, características geológicos do trecho, que possui traçado sinuoso, tráfego intenso de veículos pesados e alto índice de acidentes, dificultam a operação da rodovia e geram dificuldade para fazer os investimentos. A BR-381 tem sua duplicação prometida desde a década de 1990.
Para Sant’anna, as mudanças na matriz de risco do projeto possibilitaram uma concessão mais razoável, que tem a vantagem de ser federal, com regulação madura, diante de um cenário típico, em que grupos novos no setor ingressem com investimento em um ativo com competição menor e seja mais difícil competir com os operadores tradicionais.
Imagem: DNIT / Divulgação
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