O bezerro de ouro está nu – 21/10/2024 – Juliano Spyer



Na semana passada, o senador Flávio Bolsonaro iniciou um artigo afirmando: “O maior cabo eleitoral do Brasil atende pelo nome de Jair Messias Bolsonaro”. Ele defende esse argumento citando os resultados das eleições municipais, favoráveis à direita. Mas por que ele sente a necessidade de afirmar isso?

É possível argumentar que, entre evangélicos, Bolsonaro foi o principal derrotado nestas eleições. Nas últimas semanas, ele tem sido alvo de ataques vindos da direita religiosa. Vale a pena relembrar alguns desses episódios.

O primeiro a expor a fragilidade de Bolsonaro foi o influenciador e evangélico Pablo Marçal. Durante sua campanha, repetiu que, ao apoiar Ricardo Nunes, candidato do centrão em São Paulo, o ex-presidente estava se distanciando de seus princípios. Antes, ele simbolizava a resistência à corrupção, ao comunismo e aos valores antifamília, mas agora, segundo Marçal, estava se curvando ao sistema.

Dois evangélicos com projeção nacional, os deputados Nikolas Ferreira e Marco Feliciano, seguiram Marçal. Ambos atacaram Bolsonaro indiretamente, criticando Silas Malafaia, o principal líder religioso que se colocou como defensor do ex-presidente contra as críticas do influenciador.

Logo após Marçal sair da disputa, Malafaia também criticou Bolsonaro. Em entrevista a Mônica Bergamo, acusou-o de ser “covarde” e “omisso”. E revelou uma conversa em que Bolsonaro, deprimido e temendo ser preso, teria chorado por cinco minutos antes de começar a falar.

A fissura aberta por Marçal se aprofundou na semana passada. O deputado Otoni de Paula representou a bancada evangélica em evento no Planalto em que Lula sancionou a lei que cria o Dia da Música Gospel.

Ex-apoiador de Bolsonaro, Otoni disse que Deus já havia usado Lula para “abençoar o povo de Deus” e destacou o impacto dos programas sociais do governo petista, especialmente na ampliação de oportunidades educacionais para membros das igrejas evangélicas.

Em resposta a uma onda de críticas de bolsonaristas, Otoni contra-atacou, chamando Bolsonaro de “bezerro de ouro“, em referência à passagem bíblica que condena a idolatria. Ele vocalizou o desconforto de parte dos evangélicos, criticando a exclusão ou marginalização de crentes que não aceitavam o apoio incondicional ao ex-presidente em 2022.

Mais uma vez, Bolsonaro foi retratado como fraco. Nas palavras de Otoni: “A saída do presidente Bolsonaro do Brasil sem dar uma satisfação aos patriotas beira a covardia. Amanhã vou ter que ouvir de um petista que o presidente deles tem mais coragem que o meu. Porque quando foram prender Lula, disseram: ‘Foge, vá para onde você quiser’. Ele respondeu: ‘Eu fico’. E foi preso. Depois, quando lhe ofereceram usar tornozeleira eletrônica, ele recusou: ‘Só saio daqui com a minha honra’, e assim o fez.”

Bolsonaro já não tem a caneta presidencial, está inelegível e é visto por muitos de seus eleitores como parte do sistema. Abre-se, então, uma janela de oportunidade. Assim como Otoni de Paula se aproximou do prefeito Eduardo Paes, outras lideranças evangélicas tenderão a estar mais abertas ao diálogo com políticos fora do espectro da direita.


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