A volta de Paul McCartney ao Brasil com a turnê “Got Back” leva a gente a se perguntar até quando consegue o ex-beatle manter a qualidade e, sobretudo, a duração de seu show de duas horas e meia.
Sua voz, já se percebe, não é mais a mesma. Em canções que exigem muito do vocal, como a bela “Maybe I’m Amazed”, composta em 1970 para sua mulher Linda, nota-se que a idade pesa até para o gênio Paul. Para os fãs não importa. Assistir um beatle ao vivo é sempre mágico, ainda mais quando todos pensam que pode ser a última vez.
Ano passado rolou um boato que o show do Maracanã seria o último de Paul. A vinda de suas filhas para assistir aquela apresentação parecia legitimar o disse-me-disse. Ringo já estaria de passagem comprada para tocar com Paul a então recentemente lançada “Now and Then”. Mas nada disso aconteceu. Teria sido lindo, mas nos privaria dos shows desse ano, em que Paul mostra que dessa cana ainda sai muito caldo.
De 1990 a 2023 Paul McCartney cantou 109 músicas diferentes no Brasil, clássicos dos Beatles, de sua fase com os Wings e da carreira solo. Apenas duas canções estiveram em todas as apresentações, “Hey Jude” e “Let It Be”, segundo o ótimo livro “Paul McCartney no Brasil”, do jornalista Leandro Souto Maior, publicado pela editora Garota FM Books esse ano.
Leandro conta todas as aventuras do ex-beatle no Brasil, com especial atenção à primeira vinda em 1990, na qual Paul bateu recorde de público de 184 mil pessoas no Maracanã. Ele nunca esqueceu tal exibição. Outro momento memorável foi o show em Goiânia em 2013, quando uma invasão de gafanhotos tomou conta do palco e o ecológico Paul se encantou.
A vinda deste ano trouxe uma novidade no show quase sempre previsível: Paul tocou a “nova” “Now and Then”. Para os beatlemaníacos, isso já valeu o ingresso. Paul é o mito que ainda mobiliza a beatlemania em shows pelo mundo e se mostra surpreendentemente ativo para a idade. Mas até quando? Seu show é lotado de cabeças brancas. Sem Paul, o que acontecerá com a beatlemania?
Não vejo nas novas gerações a mesma empolgação com os Beatles. Espanto-me em constatar que, para muitos jovens bem descolados, bandas como o Queen parecem maiores ou mais representativas de seus desejos identitários do que os velhos Beatles.
Claro que há um equívoco nesse olhar enviesado, uma clara falta de dimensão histórica. Não haveria Queen sem os Beatles. Mas, ainda assim, espantei-me quando um aluno com seus vinte anos me disse que achava os Beatles “heterotop demais”. Ainda que equivocado, tal comentário ilustra os limites da penetração dos Beatles nas intransigentes novas gerações.
Filmes como os do Queen, “Bohemian Rhapsody”, foram fundamentais para a renovação e até ampliação do público da banda de Freddie Mercury. O último filme dos Beatles, “Get Back”, é sensacional, mas não ganhou um fã a mais para a banda de Paul.
Entre os beatlemaníacos já se sabe que nos próximos anos haverá quatro filmes biográficos sobre os rapazes de Liverpool, um para cada integrante. Será uma oportunidade de renovar o público, já que Paul não estará para sempre fisicamente entre nós, segurando a tocha da beatlemania.
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Publicitário e Jornalista.