São Paulo
Foi com surpresa que soube que Felipe Andreoli vai deixar a Rede Globo. Mesmo sabendo que a televisão já não é a rainha da mídia como era antes, mesmo compreendendo que a emissora dos Marinho há muito deixou de ser a grande meta de todo artista ou jornalista.
Mesmo acompanhando as mudanças da sociedade e os sonhos de independência dos brasileiros, ainda assim minha primeira reação foi de susto e comecei a fazer aquela montanha de perguntas que o cérebro formula quando não compreendemos uma situação:
“Mas por qual motivo? Aconteceu alguma coisa? O programa não estava dando audiência? Ele brigou com alguém? Mudou algo no departamento de esportes da emissora? Ou será que ele se deixou influenciar pela Rafa Brites, que disse que ganha com um story o equivalente a um mês de salário na Globo?”
Em busca de uma resposta, fiz um flashback de tudo o que sei sobre Felipe. Eu o conheci no tempo do CQC, quando trabalhávamos na Band. Felipe sempre chamou a minha atenção não só por seu talento e educação, mas por ter uma rara combinação de virtudes: é muito inteligente, poliglota (fala fluentemente inglês, espanhol e italiano, além do português), cultíssimo e, apesar de todas essas qualidades, é humilde, tranquilo, na dele. No meio artístico, tem muita gente que, por muito menos, já entraria para o clube da arrogância. Ele, não. Sempre um lorde.
Acompanhei seu casamento, o nascimento de seus filhos, seus trabalhos e aplaudi seu contrato com a Globo que, à época, me pareceu o ápice do reconhecimento de sua carreira. Lembro até de um caso pitoresco em relação a essa mudança: Felipe estava morando no Alto da Lapa, em São Paulo, em uma casa ampla, muito bonita, bem decorada, com um belo jardim. Porém, por causa da Globo, ele teria que morar no Rio de Janeiro.
Assim, ele “passou” a casa para Fábio Porchat, que na ocasião morava no Rio de Janeiro e também por conta do trabalho precisava de uma casa em São Paulo. Fui muitas vezes à “casa do Felipe Andreoli com o Porchat dentro” para fazer reuniões.
Passei a assistir Felipe na TV e o encontrava ocasionalmente. Quando fiz um projeto de passeios em São Paulo guiados por podcast (SP Me Guia), em parceria com uma grande rádio, Andreoli aceitou o convite para inaugurar a série. Foi de uma gentileza ímpar e encantou toda a equipe.
Por essa trajetória tão perfeita, imaginei que ele fosse continuar sua carreira na Globo. Mas não. Felipe parece ter sido sincero em seu vídeo de despedida no Instagram. Ele quer sonhar, quer ter mais tempo com a família, quer ser dono do “seu passe”, como se diz no esporte.
Para decifrar o enigma “por que Felipe Andreoli saiu da Globo?”, talvez o melhor seja recorrer a outra pergunta: “o que se dá para uma pessoa que já tem tudo?” Porque a resposta é a mesma: liberdade.
Só posso desejar a ele toda a sorte do mundo nessa nova jornada. Que ele seja livre para voar e que seus voos estejam à altura de tudo que ele merece.
Publicitário e Jornalista.