Série de Paola Carosella inspira a não se satisfazer com pouco



Num dos momentos em que a preocupação política fica mais evidente, a chef reflete sobre o significado de seu trabalho em um país que saiu, mas depois voltou para o mapa da fome, apesar da abundância de alimentos produzidos: “A fome é uma escolha. Não, claro, de quem passa fome. Mas de quem provoca a fome.”

E aqui o olhar da chef para a cozinha se conecta novamente à literatura, ao meu olhar para a arte. Por que falar de comida ou de livros mesmo em tempos de fome e burrice orgulhosa, de crises severas, de pindaíbas econômicas, de anomalias políticas?

Ora, porque, apesar de todas as adversidades, sempre podemos procurar por maneiras de fazer com que a vida seja um pouco melhor. Saber transformar um prato ordinário em algo sublime ou ganhar um momento num dia caótico graças a um grande livro.

“Talvez precisamente em tempos de miséria e catástrofes a beleza se torne ainda mais necessária, e não apenas para os abastados, longe disso”, escreve Michèle Petit no recém-lançado “Somos Animais Poéticos” (34, tradução de Raquel Camargo). A ensaísta francesa prossegue:

Precisamos reconhecer que a beleza constitui uma dimensão humana, não um luxo. E se ela não torna ninguém virtuoso, sua provação pode desencadear uma raiva destrutiva, uma inveja odiosa. Ou uma fragilidade diante do primeiro charlatão que aparece e que, com frases muito bonitas, lucrará com sua angústia.

Conhecer o que é bom para não se satisfazer com qualquer mediocridade, seja na cozinha, na biblioteca ou por outros prazeres da vida, não está diretamente ligado a luxos ou preços altos. Tem mais a ver com formação e informação, com saber tirar o melhor proveito daquilo que temos em mãos. Também com não ser enganados por propagandas ou charlatanices.



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