Juntamos todas as dicas de saúde mental que aparecem nas newsletters de Materna neste texto, assim você consegue tirar suas dúvidas de forma simples, completa e organizada.
Você não precisa gostar de tudo na gestação
Durante a gravidez é esperado que você tenha aquele momento de filme em que se olha no espelho passando a mão na barriga, com um sorriso no rosto e lágrimas nos olhos imaginando a alegria que vem por aí. Mas nem sempre a gestação é esse momento endeusado, e está tudo bem.
Tem quem não goste da barriga ou da sensação de ter um ser humano dentro da barriga e esse estranhamento pode causar dúvidas como: seria você uma séria candidata a menos mãe? Já te avisamos: NÃO.
Não se sentir plenamente feliz enquanto gesta é muito mais normal do que se imagina. E o problema não está na mulher que experimenta angústia, incômodo ou até tristeza – e sim no inconsciente coletivo.
“Há culturalmente pouco espaço para a vivência da gestação com vulnerabilidade, sendo que a vulnerabilidade psíquica é uma condição da gestação. O suporte medicamentoso pode ser um amparo, mas não é o que a gestante idealizou por não ter espaço para pensar nisso na sociedade. Por isso a importância de falarmos do assunto e abrirmos mais espaço, para que mais mulheres e gestantes possam existir com suas ambivalências, dores, medos e possam encontrar o devido amparo”, analisa a psicóloga Arielle Rocha Nascimento, especializada em gravidez, parto, puerpério, infertilidade e reprodução assistida.
É justamente por estar vulnerável que a mulher vai se permitir estar mais sensível para se encontrar com as necessidades que esse bebê tão logo irá apresentar. É quase como baixar suas defesas para captar os sinais do seu filhote, mas não podemos confundir a nova força com onipotência: a mãe não precisa dar conta de tudo, e pode sim receber auxílio, inclusive de medicação, para se sentir mais tranquila diante das incertezas que a gestação traz – desde que orientada por um médico psiquiatra.
Ondas de humor: prepare-se para as oscilações
A gestação é praticamente sinônimo de mudanças de humor, mas os hormônios não são a única causa: transformações físicas, ansiedade (em viver algo inédito ou diferente – no caso de quem já esteve grávida antes) e o medo também são responsáveis por nos fazer sentir euforia, angústia, irritação, impaciência – tudo em um dia só inclusive! “A primeira coisa é acolher, entender que faz parte sentir raiva, tristeza, picos de alegria. Quando a mulher vive a gravidez, é como se ela ficasse porosa, inclusive com o ambiente, com o sexto sentido mais aguçado – e talvez ela perceba coisas que ela não perceberia, dentro e fora dela”, explica a terapeuta perinatal Patrícia Bressan. Mas se engana quem pensa que essa fase é ruim. “Pode ser um momento muito legal para conseguir se encontrar com você mesma, ao invés de colocar mais barreiras para o que está sentindo. É como se fosse um portal que se abre. Pode causar sofrimento, mas por isso ter um acompanhamento terapêutico profissional é importante nesse momento”, explica a especialista.
Como fica meu tratamento psiquiátrico?
Ele continua! “A saúde mental é fundamental para a saúde gestacional, hoje mais do que nunca. A demanda de uma gestante hoje é infinitamente maior do que a de uma gestante de 20 anos atrás. Além disso, as mulheres têm mais tendência genética, hormonal e comportamental a apresentar transtornos de ansiedade do que os homens, e a mulher é que fica grávida”, observa a ginecologista Ana Paula Junqueira. Pode confiar, há opções seguras para grávidas, e é provável que seja exatamente o remédio que você já toma. O ideal é não parar abruptamente o tratamento e sim falar com o médico psiquiatra assim que descobrir o positivo – para checar se está com a medicação adequada para os próximos meses. Caso ainda não trate a ansiedade e ela aumente muito durante a gestação, o obstetra pode recomendar a consulta psiquiátrica para início de tratamento. “Transtornos de ansiedade devem ser tratados durante a gestação, porque tem uma chance muito grande dessa gestante sofrer demais no puerpério, período de maior desafio para a saúde mental.”
Depressão na gravidez: é sério isso?
Pode acontecer, e deve ser olhada e tratada com carinho, como em outras fases da vida, inclusive com terapia e medicamentos seguros para gestantes. Mas – antes de mais nada – é importante também entender que essa é uma fase cheia de novidades e que é possível experimentar alguns traços característicos de quadros depressivos ou de ansiedade sem necessariamente estar de fato em um quadro desses. “Sintomas depressivos ou de ansiedade são comuns na gravidez, a grande questão é a persistência deles e o quanto eles nos incapacitam. Afinal, a nossa vida como era antes vai morrer, e vai chegar uma outra vida de grandes transformações. Quais são esses sintomas que precisamos estar atentos? Tristeza, perda de interesse, perda de prazer, alteração no sono, cansaço, perda de energia, pensamentos sobre morte, culpa, medo?”, explica a psicóloga existencial Maria Silvia Logatti. Como saber se você está com depressão? A especialista explica que uma dica é perceber a persistência e a intensidade dos sintomas e como eles estão atrapalhando seu dia a dia. “Se você não estiver conseguindo sair da cama, se estiver muito ansiosa, se parar de dormir, é hora de procurar um especialista”.
Nasce uma mãe, nasce a… ansiedade?
O clichê “nasce uma mãe, nasce uma culpa” está ultrapassado. Esse sentimento negativo ficou para trás no ranking daqueles vivenciados pelas gestantes: 89,6% das mães dizem que se sentem ansiosas – a maioria (54,3%) diariamente – enquanto a culpa arrebata 33,72% delas.
“Atualmente as mães têm menos rede de apoio e temos uma vida menos comunitária. A gente precisa dar conta de múltiplas tarefas. Casa, filhos, trabalho e mais uma porção de coisas”, analisa Maria Silvia Logatti, psicóloga e filósofa. Segundo ela, a ansiedade está diretamente relacionada ao medo de não saber fazer as melhores escolhas, especialmente quando não vivenciamos aquela situação antes. “Será que eu vou dar conta? Será que vou saber fazer? Muitas vezes, ela está ligada a uma falta de repertório. Eu nunca fui mãe, será que vou conseguir?”, exemplifica.
Agora, se as mães naturalmente costumam ter essas preocupações, imagine quando sobrecarregadas. “Muitas vezes, as que possuem mais repertório têm a tendência de se sentirem menos ansiosas, mas a ansiedade pode aparecer por outros fatores. Será que o dinheiro vai dar? Como vai ser uma nova criança no contexto familiar?
É comum que o sentimento de culpa apareça depois da ansiedade – quantitativamente, como vimos nos dados, e cronologicamente, como podemos entender a seguir. Se a ansiedade, resumidamente, se traduz em medos do que está por vir, a culpa, em geral, se manifesta depois da realidade apresentada.
“A culpa é um sentimento de fracasso de uma escolha feita. Por exemplo, se eu escolhi ficar com meu filho porque ele está doente, sinto culpa porque deixei o trabalho, e vice-versa”, explica Maria Silvia Logatti, psicóloga e filósofa Então nada de se culpar por identificar que a ansiedade ou a culpa andam rondando sua mente. Você definitivamente não está sozinha, apesar de também poder se sentir assim.
A dica para lidar com qualquer um desses fantasmas é a mesma: procure ajuda. Construa uma rede de apoio, seja familiar, paga, recheada de boas amizades, ou composta por mães que conheceu nas redes sociais.
Como lidar com medo do aborto espontâneo?
Não é fácil, a gente sabe, especialmente se a perda gestacional for tema familiar para você. “Em uma primeira gravidez espontânea, o medo de perder dificilmente vai ter um lugar de protagonismo, mas vai ocupar um lugar interessante porque vai fazer a gestante se cuidar, ir ao médico, fazer o pré-natal.. Mas se esse medo vem depois de uma perda gestacional , ou se vem em uma história familiar em que todas mulheres sofreram muitas perdas, esse medo vai ter um lugar no horizonte um pouco mais aceso. Se esse medo a paralisa ou a deixa fixada nessa questão, isso pode ser ruim e talvez seja importante buscar uma escuta especializada, para que essa mulher não viva a gestação em sofrimento psíquico sem suporte emocional”, analisa a psicóloga Arielle Rocha Nascimento, que atua no acompanhamento de gravidez, infertilidade, reprodução assistida, parto e puerpério.
Nesses casos, é interessante falar do assunto com um terapeuta e tentar entender que essa probabilidade não é uma certeza, e mais: se acontecer – não será culpa sua! “Aborto é um tabu na nossa sociedade. Quando a mulher vai sofrer um aborto, ela pode abortar independente do que ela fizer. Uma gestação é forte, quando ela tem que acontecer, ela acontece, em situações de guerra inclusive. O aborto traz uma tristeza imensa, mas não é de responsabilidade da mulher segurar um bebê que seria abortado de qualquer forma”, analisa a psicóloga existencial Maria Silvia Logatti. Segundo ela, algo que pode ajudar a entender que não está no seu controle é pensar que, ao invés de jogar para o universo, precisamos aceitar que essa é uma questão do universo. “A gente acha que tem o poder sobre tudo e não tem, não está no seu controle.”
Ouvi as batidas e ainda não me sinto mãe, é normal?
Normal, e até esperado – mas pouca gente fala sobre isso. “É comum que, ao escutar o coraçãozinho batendo, uma série de interrogações sejam feitas porque é um momento inédito na vida daquela mulher, ela não sabe o que vai vir, mas na nossa sociedade isso é embrulhado de muitas idealizações e exigências do que ela deveria sentir, como se a única coisa possível de se sentir ao saber que está grávida fosse uma paixão avassaladora. E, às vezes, isso nem incomoda a gestante, mas ela estranha porque a expectativa social é destoante do que ela está sentindo. Não tem só uma forma de receber um positivo”, afirma categoricamente a psicóloga Arielle.
O seu coração vai bater mais forte de emoção quando for a hora, a sua. Não há certo e errado e você não é menos mãe por isso. Lembre-se, inclusive, que hoje em dia descobrimos que estamos grávidas muito cedo, escutamos o coração com ajuda do ultrassom logo ao fim do segundo mês, e isso pode acabar tirando a naturalidade do percurso. Ou seja, é totalmente compreensível que o sentimento de “ser mãe” vá surgindo e aumentando aos poucos, conforme a barriga vai crescendo. Não se preocupe, como se algo de errado estivesse acontecendo ou como se precisasse de terapia para ontem.
Cada caso é um caso e é importante entender e acolher o seu. “A mulher que traz essa pergunta traz sua própria história, sua singularidade? Duas mulheres podem ouvir o coração e não se sentirem mães, por questões diferentes. Agora, se isso traz para ela, no avançar da gestação, uma distância da vida dela e do que está acontecendo na maternidade, um conflito na hora de dormir, se ela está em dissonância psíquica com o que todo mundo está falando e não está conseguindo lidar com isso, talvez seja bom falar com alguém que possa ouvir, sem julgamento, sem esperar que ela sinta alguma coisa. A sociedade já faz isso muito bem com a mulher que engravida”, comenta Arielle.
Não converso com a barriga, é normal?
Super normal. “Essa romantização da gravidez, onde a pessoa tem vontade de conversar com a barriga ou colocar música clássica para o bebê não é uma realidade para todas. Algumas mulheres vivem isso, mas não significa que todas vivam. Atualmente a gente consegue detectar a gravidez muito precocemente, mas isso nem sempre esteve presente na humanidade, é bastante recente. Muitas mulheres antes só percebiam que estavam grávidas depois do atraso de mais de uma menstruação ou com o crescimento da barriga, e tem a cobrança da sociedade de já se sentir mãe logo e isso é uma coisa inventada”, observa a psicóloga existencial Maria Silvia Logatti.
A dica é abraçar a mãe que você está sendo e tem vontade de ser nesses meses, sem cobranças, pois o tempo naturalmente vai aguçando a conexão com seu bebê, e do seu jeito. Você pode não conversar com a barriga, mas viver acariciando o ventre por exemplo, ou ter outros cuidados com alimentação, ingestão de água, sono e tantos outros – que também são linguagens de amor, apenas menos romantizadas.
Segundo Maya Eigenmann, expert em Educação Positiva, é comum que a vontade e a ação de ter um filho venha de um lugar de vazios e sonhos, quase como um mantra “agora vou ser feliz”, mas gerar com base em carência não vai ser saudável – isso contribui para um ciclo sem fim de expectativas, em grande parte das vezes, frustradas. Antes ou durante a gravidez, se pergunte: como estou com minhas sombras, meus traumas? Se achar que há temas a serem trabalhados com ajuda de alguém especializado, não se sinta menos mãe em procurar por esse atendimento, lembrando que há psicólogos que atendem por convênio médico, faculdades que colocam estudantes do último ano de Psicologia para atender a população e as boas e velhas amizades. “Pra quem não tem condições de pagar terapia, que a gente não despreze o poder curativo de conversas acolhedoras. O processo do cuidado de traumas não precisa ser algo exorbitante e, se não tiver condições, ajuda estar em comunidade, com pessoas que te ouçam.”
Dica de terapeuta: como incluir mindfulness no dia a dia
“Mindfullness é uma prática de meditação que pode ajudar e aliviar nos quadros de ansiedade ou pensamento acelerado. Meditar é difícil, mas sempre pergunto: como você tentou meditar? Meditar 20 minutos é nível avançado. Minha dica é começar com um tempo curtinho e ir introduzindo isso como um hábito cotidiano”, explica a psicóloga existencial Maria Silvia Logatti. E não desista se , muitas vezes você tiver vontade, a vida contemporânea não combina muito com meditar. “Ela é frenética e o meditar é parar. Por isso, gosto de usar um aplicativo para programar o tempo de meditação. Além de começar com tempo bem curto, indico começar com meditação guiada, depois uma semi-guiada para depois meditar sem uma voz guiando.” Não se preocupe em realizar a atividade de forma perfeita de imediato, apenas reserve um tempo para se habituar ao mindfulness – que é nada mais do que a união de dois termos em inglês: mind (mente) e fullness (de full, que significa cheio, completo) – ou seja, é a prática da atenção plena, da presença total da mente naquilo que estamos fazendo.
Os benefícios dos exercícios de respiração desde já
“Exercícios de respiração permitem à gestante ganhar maior consciência corporal e lidar melhor com o estresse. E a respiração é a base do relaxamento físico, emocional e mental”, conta a terapeuta perinatal Patrícia Bressan, que explica como a respiração consciente pode minimizar enjoos, dar mais energia, ajudar na oxigenação da gestante e do feto, melhorar o desconforto decorrente da compressão do diafragma, e ainda ajudar no trabalho de parto. “Ela pode ser a maior aliada da mulher no período expulsivo, dando mais energia para mães e bebês.” Veja um exercício de respiração para treinar desde já:
- Respiração energética: de pé, com as mãos ao longo do corpo, cerre os punhos, inspire levantando e, contraindo os ombros, bloqueie levemente a respiração. Mantendo os punhos fechados, faça movimentos de sobe e desce com os ombros (cinco vezes) e, no último movimento de descida, expire pela boca colocando todo o ar para fora de uma vez. Repita de três a cinco vezes. Esse exercício relaxa e revigora o corpo.
O nenê chutou! A barriga não é mais minha?
Tudo bem sentir-se incomodada com a sensação dos primeiros movimentos ou não sentir borboletas no estômago de paixão assim que o bebê começar a mexer. Não esqueça: você pode sentir angústias, dúvidas, pensar em questões pessoais e até deixar emergir conflitos internos nesse início de gestação. Segundo a psicóloga Arielle Rocha Nascimento, que atua no acompanhamento de gravidez, infertilidade, reprodução assistida, parto e puerpério, não se sentir mãe tão rapidamente quanto nos filmes não significa que não será uma mãe suficientemente boa. Na sua barriga cabe um bebê que vai ganhando espaço junto aos seus outros órgãos e, no seu coração, cabem outros sentimentos que não seja apenas o tão falado amor incondicional.
E se você estiver tão apaixonada pela sua barriga a ponto de se incomodar com as mãos que ousam chegar perto dela? Normal também. “Assim que a mulher engravida, é como se a barriga dela se tornasse um espaço público: todo mundo bota a mão no corpo dela, mesmo que nem todas as gestantes se sintam à vontade”, comenta Maya Eigenmann, neuropedagoga, educadora parental e escritora. Dizer que não gosta às vezes pode ser um desafio, por acharmos que estamos sendo mal educadas, sem falar no agravante de que, se quando criança, as demais pessoas não respeitavam seus limites, você acabou aprendendo a não comunicá-los mais, para ser obediente.
“É muito importante aprender a colocar esses limites. Uma das coisas que podemos fazer, se eles perguntarem se podem colocar a mão na barriga, é colocar um limite com gentileza. Dizer que não se sente à vontade e agradecer, porque a pessoa também está querendo demonstrar carinho por você e pelo bebê, então validar essa intenção é importante. Apesar de tudo, a pessoa está querendo fazer um carinho no seu filho”, orienta Maya.
Existem várias questões envolvidas nessa sensação de que barriga não parece mais ser sua, e não é só responsabilidade sua olhar para isso. Saiba que os carinhos virão – assim como os comentários sobre barriga grande, pequena, baixa, alta? – mas que é possível contornar seu incômodo com educação e respeito, aos demais e especialmente à você. Sim, essa barriga é toda sua!
Baby blues? O que é? Consigo evitar?
Não dá para evitar, mas algumas mulheres sentem mais, outras menos, e tem as que nem percebem! Mas o que é esse tal de baby blues? Depois do nascimento do bebê, o corpo começa a passar por uma cascata hormonal, que provoca reações emocionais, como tristeza, acessos de raiva, choro e angústias (que são absolutamente normais e esperadas!): esse período é conhecido como baby blues. “Eu diria que esse momento é até essencial para as mulheres, que, paradoxalmente, vivenciam um luto. A mulher muda de status social e familiar, ganha responsabilidades, sofre mudanças físicas e psíquicas, assim, é importante que tudo possa ser vivenciado, elaborado para que a mulher integre aos poucos esses novos papéis”, explica a terapeuta perinatal Patrícia Bressan.
o par precisa estar ciente disso e disponível para amparar essa mulher. Então, já conte pra ele! É importante cercar-se de pessoas que possam ajudar, escutar, criando um ambiente seguro e acolhedor para você se manter focada nos cuidados com o bebê e não deixar de descansar, comer, tomar um banho? Mas calma, esse é um estado transitório, e é diferente também de mulher para mulher; tem umas que sentem mais dificuldade em lidar com ele, outras menos. E, normalmente, em torno de um mês pós-parto, o turbilhão hormonal e emocional entra nos eixos e a mulher vai, aos poucos, restabelecendo e equilibrando a nova vida, a nova identidade. “Se os sintomas do baby blues não melhorarem, se intensificarem ou se a mulher ou o entorno sentir que ela não está bem é indicado buscar ajuda médica. O baby blues é um processo fisiológico e natural, porém quando os sintomas são contínuos, há perda de qualidade de vida, a mulher deixa de se interessar em trocas sociais e atividades que antes eram prazerosas pode ser um sinal de alerta”, orienta Patrícia.
É preciso só estar atenta aos pequenos sinais, porque existe uma linha tênue entre o baby blues e a depressão pós parto. “Nem sempre a depressão pós-parto se apresenta apenas como uma tristeza ou dificuldade de vínculo com o filho. Muitas mães continuam “funcionais”, tendo cuidados com seus filhos de forma impecável, sendo responsivas, atentas, amorosas, mas estão passando por um processo de depressão ou de pré-depressão. Alguns comportamentos podem ser uma cortina de fumaça para um diagnóstico de depressão pós-parto, como irritabilidade, cansaço extremo, sintomas de pânico, fobias e ansiedade”, explica a terapeuta.
Alguns fatores podem contribuir para a depressão pós parto como história prévia de transtornos psíquicos, antes e durante a gravidez, idade materna (adolescentes têm maior chance estatisticamente), situação socioeconômica precária, conflitos familiares, problemas de saúde com a criança etc. E não podemos esquecer que muitas mulheres vivem um verdadeiro “burnout materno”, pois estão sobrecarregadas e estressadas, resultados de uma exigência sobre-humana de perfeição e dedicação, impossível de se corresponder. “O cansaço e a frustração podem contribuir para um quadro depressivo aos longo dos meses que se seguem ao nascimento do filho. Por isso é importante estarmos sempre atentos à saúde materna”, diz Patrícia.
A ginecologista obstetra Ana Paula Junqueira conta que alguns cérebros respondem quimicamente diferente de outros e que, por isso, o baby blues é uma experiência que a gente não vive identicamente a outras mulheres, e nem mesmo entre uma gestação e outra – quando estamos em uma fase diferente de vida. “É um momento que deve ser muito respeitado. Se hidrate bem, abra janelas, se conecte mais com a natureza e menos com pessoas. É um momento que a mulher quer ficar reclusa, é químico, do mesmo jeito que vem”. O contato com o obstetra é muito importante para o diagnóstico, mas como no puerpério a mulher começa a frequentar o consultório do pediatra, é importante ele mesmo sinalizar. Mas você também pode tentar se reconhecer no quadro. Se em dez semanas pós-parto, estiver se sentindo muito angustiada, é depressão puerperal, conta a médica. “Uma dica que sempre dou é: olhe suas fotos de hoje e faça uma cronologia retroativa, você vê tristeza?”, orienta a médica.
Mães não têm tempo mesmo?
Não é balela: se sente dificuldade em ter tempo para si, saiba que não tem nada de errado com você. Os números não mentem: 47,2% das mães brasileiras têm menos de uma hora por dia dedicada para elas mesmas. Dessas, 8,8% dizem não ter tempo algum, 6,3% dizem simplesmente não fazer nada por elas, enquanto 32,1% conseguem no máximo uma hora para atividades voltadas a si mesmas. Os números refletem debates que vêm ganhando espaço, pouco a pouco, nas redes sociais – com depoimentos reais de mães, famosas e anônimas.
Em um vídeo postado em seu perfil no dia 9 de março de 2024, Samara Felippo, atriz, mãe, autora e produtora, mostrou como a falta de tempo têm confundido mulheres sobre a diferença entre autocuidado e necessidades básicas. No vídeo, ela ilustra que banho é necessidade enquanto meditação é autocuidado, e compara outras situações como receber uma massagem e comer ou fazer uma skin care e fazer cocô. Acredite, há mães que não tem tempo nem para isso. “Tem dias que nem as necessidades básicas eu consigo”, reforçou uma das seguidoras da artista.
Como lidar com amigos que são contra ter filhos?
“Tendo convicção do que você quer e não tentando convencer ninguém sobre a sua própria escolha”, afirma a terapeuta integrativa Michelle Occiuzzi, especialista em comportamento materno. É normal que cada um tenha sua própria opinião, e entender que está tudo bem tanto a escolha de ter filho quanto a de não ter é essencial para evitar conflitos. “Pra que serve querer convencer o outro de que você está certa? Por que você precisa se incomodar? No fundo, queremos agradar as pessoas, mas só precisamos estarmos inteiras dentro de nós mesmas e não desejar atender expectativas dos outros”, comenta. Olhar para isso agora inclusive irá ajudar a lidar com outras interferências que surgem depois também, como dar ou não mamadeira, colocar ou não na escolinha. Você ter filhos significa fazer escolhas, e elas precisam ser boas para você e sua família. A especialista dá dicas de como lidar com os comentários que podem surgir:
- Entenda que o outro tem o direito de ter uma opinião diferente da sua
- Quando alguém vier falar, diga apenas que respeita e que para você essa escolha é importante
- Invista em processos de autoconhecimento. Fazer terapia e se conhecer (mesmo que sem ajuda especializada) te dá paz e tranquilidade. Conecte-se com você mesma e com pessoas que tenham a mesma opinião que a sua.
“A maternidade tem alegrias, o puerpério é filme de terror”
Se pudéssemos rir de nós mesmas como mães, a jornada materna seria – minimamente – mais leve. E se pudéssemos nos assistir como protagonistas em uma peça de teatro? Interpretando as dores, amores da maternidade, a atriz Miá Mello, que é mãe de dois, está no espetáculo “Mãe Fora da Caixa”. Entrevistamos a artista e trouxemos as melhores frases dessa conversa sobre maternidade…real!
Penso muito sobre o porquê é tão impactante para quem assiste e cheguei à conclusão de que o grande diferencial de tudo que já fiz até hoje é que essa peça tem um propósito, o poder de identificação é tão grande que ela se transforma nesse lugar onde todo mundo sai mexido. E a ferramenta do humor torna a peça muito democrática.
O ideal é o que eu consigo fazer melhor, ser uma mãe possível, e com tudo isso a gente conquista um pouco mais de tranquilidade.
Já me sinto confortável de falar que eu canso, que para mim é muito difícil, que não acho que sou uma pessoa que nasceu para ser mãe.
É desgastante. O começo com o bebê exige muito, e os desafios vão se transformando, mas eles estão lá? Para mim a maternidade é um dos lugares mais difíceis de falar que falhei.
Livros, séries e filmes
Livro de cabeceira: Tudo bem não estar bem – Convida a comportar a dor e não tentar negar o vazio da perda. Referência no apoio às pessoas enlutadas a partir de uma nova perspectiva, que ignora conselhos ineficazes e honra o amor.
Livro de cabeceira: A Maternidade E O Encontro Com a Própria Sombra – Escrito por Laura Gutman, psicoterapeuta especializada em família e maternidade, traz temas que tangem a experiência real e não idealizada da mãe.
Livro de cabeceira: O Conflito: A Mulher E A Mãe – Se quer pensar no mito de que toda mulher tem o desejo e o instinto natural de ser mãe, esse é o livro. Para “desromantizar” e entender os efeitos de expectativas, restrições e obrigações maternas.
Livro de cabeceira: Por Que Ninguém Me Disse Isso Antes? – Um livro que foge do tema específico da maternidade, mas traz reflexões importantes para essa fase, ajudando a compreender o que está sentindo e como lidar da melhor forma possível.
Livro de cabeceira: Cuide-se Pra Cuidar – Mãe de quatro filhos, Laura Schwengber propõe diálogos honestos sobre os desafios maternos, questionando crenças e papéis de gênero e encorajando o público feminino a nadar contra a maré de pressões
Livro de cabeceira: Mãe Recém-Nascida – É sempre sobre o bebê, livros e mais livros? Mas e a mãe que acabou de nascer? Aqui está: meio livro, meio diário, meio conversa entre amigas, meio conforto, meio choque de realidade, meio cafuné.
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