BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Horas após o governo de Donald Trump confiscar uma aeronave da Venezuela na República Dominicana, sob a justificativa de que houve violação das leis de controle de exportação e das sanções dos Estados Unidos, o regime de Nicolás Maduro chamou o secretário de Estado Marco Rubio de “delinquente internacional”.
É quase que em um jogo de morde e assopra, dado que há exatamente uma semana estavam reunidos em Caracas Maduro, o seu aliado Jorge Rodriguez e o enviado especial de Trump Richard Grenell, sorridentes. A viagem surpreendeu ao fazer da Venezuela o primeiro destino de um enviado de Trump na América Latina neste seu governo.
Rubio completou seu giro pela região nesta quinta-feira (6) ao visitar a República Dominicana. No país governado por Luis Abinader, outro ferrenho crítico de Nicolás Maduro, ele aproveitou para participar publicamente do confisco da aeronave Dassault Falcon 2000EX, pertencente à PDVSA, estatal de petróleo da Venezuela.
O regime respondeu por meio de comunicado nesta sexta (7): “Esse ataque contra a Venezuela demonstra que Rubio não é mais do que um delinquente disfarçado de político, usando seu cargo para saquear nosso país. Seu ódio o converte em um delinquente internacional, capaz de violar qualquer norma para drenar a nossa pátria”.
O comunicado com linguagem típica do chavismo diz ainda que o chefe da diplomacia de Trump 2.0 entrará para a história como “um ladrão e inimigo declarado do povo da Venezuela”.
Em nota, o Departamento de Justiça dos EUA disse que a aeronave estava em solo dominicano para uma manutenção que estaria sendo feita com peças de fabricação americana, o que violaria a lei dos EUA pelo fato de a PDVSA ser sancionada por Washington.
A aeronave seia usada também por autoridades do regime, entre elas o próprio Maduro e sua vice, Delcy Rodríguez.
Ainda segundo o governo americano, a aeronave foi comprada pela petroleira nos EUA em 2017 e levada para a Venezuela. Desde então, foi reparada em várias ocasiões com peças americanas, como conjunto de freios, displays eletrônicos de voo e computadores de gerenciamento.
Em 2019, durante seu primeiro governo, Trump emitiu uma ordem proibindo empresas e cidadãos americanos de fazerem transações com a PDVSA.
Há poucos meses, também na República Dominicana mas ainda sob o governo de Joe Biden nos EUA, outra aeronave venezuelana havia sido apreendida por Washington em circunstâncias semelhantes.
Curiosamente, Trump zombou daquela medida. Disse que o governo democrata era “estúpido” e que “não dá em nada, agora Maduro pode sair e conseguir um modelo muito maior e melhor com todo o dinheiro que pagarmos à Venezuela por petróleo que não precisamos”.
A recente visita do enviado de Trump a Caracas jogou um balde de água fria na oposição que se agarrava ao retorno do republicano à Casa Branca como esperança para aumentar a pressão contra Maduro.
Na ocasião, quando o governo americano disse que a viagem “não era uma negociação, mas uma mensagem clara”, Richard Grenell conseguiu a liberação de seis americanos que estavam presos na Venezuela.
Segundo os EUA, Caracas também aceitou receber os imigrantes deportados de sua nacionalidade que o país pretende expulsar, algo que o regime de Maduro ainda não confirmou. Outros sete americanos seguem presos no país da América do Sul.
Não está claro qual foi a moeda de troca da negociação. Pessoas do entorno de Trump, inclusive o secretário de Estado, já sinalizaram que a punição poderia ser na área de petróleo, como possivelmente tirando a licença para que a gigante Chevron atue na Venezuela.
Ainda assim, a oposição tem mantido contato próximo com a Casa Branca. O opositor Edmundo González foi aos EUA para a posse de Trump, quando se reuniu com republicanos, e mais recentemente teve um encontro breve, de cerca de 30 minutos, com Rubio quando os dois coincidiram no Panamá.